

O tempo ao alcance das mãos (PARTE 2)
A Revolução Francesa ainda pulsava quando decidi ficar mais uma noite em Paris. Era julho de 1789 e o ar tinha cheiro de expectativa. E de medo. Decidi ficar mais dois dias depois da queda da Bastilha. A cidade parecia caminhar sobre cacos. Ruas tomadas por rumores, cafés lotados de gente comentando o que poderia vir. O extraordinário acontecia no detalhe. Homens discutiam direitos como quem discute pão, mulheres defendiam a própria voz, jovens anotavam tudo em folhas que tal


O tempo ao alcance das mãos (PARTE 1)
Desde pequeno a imaginação me leva longe daqui. Não se trata só de um lugar, mas de quando. A chance de atravessar o tempo como quem atravessa uma porta sempre mexeu comigo. Não era fuga, era fascínio puro. Pode ser que essa vontade tenha nascido nas séries como O Túnel do Tempo e A Ilha da Fantasia. Não perdia um capítulo. Elas me faziam acreditar que a qualquer momento poderia tropeçar em um portal escondido no quintal. Mas foi quando De Volta para o Futuro chegou, há exato


A coincidência improvável e o uso oportunista do risco reputacional
Quando um estudante aparece, dias antes do ENEM, exibindo em uma live questões praticamente idênticas às aplicadas, não falamos de sorte. Falamos de algo que desafia a lógica e exige resposta imediata. Os mesmos números, os mesmos textos, a mesma estrutura. Uma coincidência tão improvável que levou o MEC a anular três perguntas. O jovem alegou ter decifrado um "padrão de IA". Fui conversar com quem opera modelos avançados de algoritmos. A resposta foi rápida: "essa tese não p


O país que ainda insiste em tropeçar no óbvio
A liquidação extrajudicial do Banco Master pelo Banco Central e a prisão de seu controlador não são apenas mais um escândalo financeiro. São um espelho incômodo da nossa velha mania nacional de tratar a trapaça como método e o atalho como cultura. Cada vez que um castelo de cartas cai, parecemos despertar por instantes, apenas para voltar a adormecer diante do mesmo roteiro. O caso revela um país que ainda enxerga governança como detalhe e controle como formalidade. A tentati


A ficção, enfim, entrou em casa
R2D2, C3PO, Rosie, Wall-E, HAL 9000, T-800. Durante décadas, esses personagens foram apenas projeções do que um dia poderia existir. Hoje percebo que eles foram, na verdade, exercícios preparatórios. Ensaios emocionais para algo que já está acontecendo. Pela primeira vez, a ficção não está mais distante da realidade. Ela está prestes a entrar nas nossas casas, nas fábricas, nos escritórios. E nas ruas. O curioso é que os primeiros robôs entre nós não tinham rosto humano. Eram


O enigma do afeto nos grupos de família
Quem não participa de um grupo familiar ou comunitário em que uma pessoa mais velha nos envia, com disciplina quase ritual, aquelas mensagens de bom dia, imagens de natureza, reflexões espiritualizadas ou pensamentos otimistas sobre a vida? Às vezes passam batido, outras arrancam um sorriso, mas raramente paramos para perguntar o que realmente sustenta esse hábito tão recorrente, esse pequeno enigma cotidiano. Quando olhamos com mais generosidade, e também com o olhar treinad


O dia em que a infância se despediu
Outro dia, meu filho desceu com um lego debaixo do braço. Como sempre fazia. Disse que ia brincar no salão de jogos do prédio. Eu sorri, como quem vê um ritual conhecido. Poucos minutos depois, ouvi o som do elevador voltando e a porta se abrindo. Ele entrou cabisbaixo, como se tivesse esquecido alguma coisa importante, mas não era uma peça. Ele se sentou no sofá, olhou para mim e, com uma tristeza que não cabia em seus 12 anos, disse: “Pai, não tem mais graça brincar”. Ficam


O mundo é feito de interesses. E tudo bem (#PARTE2)
Chega uma hora em que a gente entende. Entende que nem tudo precisa de presença, que nem todo encontro vale o tempo, que nem toda confraria precisa do nosso nome na lista. E que há um certo prazer em simplesmente não estar, em escolher ficar fora de certos círculos, certos brindes, certos sorrisos obrigatórios. Nada é mais libertador do que poder dizer “não preciso”. Porque o mundo é, sim, feito de interesses. Mas há um tipo de paz que só chega quando deixamos de disputar rel


O mundo é feito de interesses. E tudo bem (#PARTE1)
Não há relação humana, política ou corporativa que não carregue uma dose de interesse por poder, reconhecimento, segurança, afeto, influência ou pertencimento, para citar alguns. Fingir que vivemos movidos apenas por ideais puros é negar a própria natureza do convívio humano. O interesse é o que nos move e, paradoxalmente, o que nos testa. O problema não está no interesse em si, mas na forma como o administramos. Há quem o transforme em instrumento de cooperação, criando pont


Quando o coração pede pausa
O episódio vivido por Oscar, do São Paulo, emociona e inquieta. Em plena atividade, um desconforto durante o treino revelou uma arritmia cardíaca e o levou ao hospital. De repente, a rotina, o campo, a bola, tudo parou. E com essa pausa veio a pergunta que talvez assuste qualquer profissional: o que fazer quando a vida pede um tempo daquilo que mais amamos fazer? Oscar é só o espelho mais visível de algo que pode atravessar qualquer carreira. Às vezes é o corpo que desacelera




























































