O décimo terceiro do desejo
- Luis Alcubierre

- há 2 dias
- 2 min de leitura
Dezembro sempre chega com seu pacote simbólico de renovações. Um fechamento suave de ciclo, quase como aquela pausa estratégica que as empresas fazem antes de abrir o planejamento do ano seguinte. Mas, no fundo, o que buscamos nesse período não é apenas equilíbrio de contas emocionais. É algo mais íntimo, mais humano. Uma espécie de décimo terceiro da alma, um crédito extraordinário de desejo.
É curioso perceber como as pessoas se sentem pressionadas a formular promessas de ano-novo, como se a virada exigisse compromissos formais, metas agressivas e planos infalíveis. Mas a experiência ensina que promessa demais engessa, cansa, sufoca. Prometer virou KPI de existência e, convenhamos, às vezes a gente precisa menos de métricas e mais de respiro.
O desejo, por outro lado, tem outra natureza. Ele não cobra prazo, não exige garantia e não busca performance imediata. Desejo é intuição em movimento. É aquela inquietação boa que o corpo sinaliza e a mente confirma: “vai por aqui”. É um alinhamento fino entre o que somos e o que queremos ser. Não precisa de discurso, basta intenção. Não precisa de evidências, precisa de vontade.
Talvez o espírito deste fim de ano esteja justamente nisso: em autorizar-se a desejar sem culpa, sem esses excessos de racionalidade que às vezes contaminam até nossa vida pessoal. Em dar espaço para aquela vontade antiga que ficou engavetada. Em reconhecer que há desejos que não precisam virar resolução para existir, basta que sejam assumidos, reconhecidos, acolhidos.
O décimo terceiro do desejo é esse bônus afetivo que cada um pode sacar a qualquer momento. Ele não paga boletos, mas sustenta coragem. Não aumenta patrimônio, mas amplia horizontes. E, silenciosamente, encoraja movimento. Um passo. Depois outro. Sem alarde. Sem promessas.
No fim, talvez seja essa a maior beleza de dezembro: lembrar-nos de que a vida não é gerida apenas por metas tangíveis, mas por essa dinâmica emocional que nos impulsiona a fazer valer aquilo que a nossa essência pede. Que 2026, ou qualquer ano, comece com menos obrigação e mais verdade. Menos promessas e mais desejos.
Porque, quando o desejo é legítimo, ele já é, por si só, o início da transformação.

Foto: Liana S | Unsplash





























































Comentários