O que está acontecendo?
- Luis Alcubierre

- há 4 dias
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A segunda ocupação do ano da Mesa Diretora da Câmara, desta vez protagonizada pelo deputado Glauber Braga (PSOL RJ), vai além da surpresa. Exige compreensão. Não podemos tratar como normal aquilo que fere ritos, força o atrito da convivência institucional e expõe fragilidades de uma Casa que deveria operar pelo respeito à forma e à função.
Os relatos são consistentes. O deputado subiu à cadeira da presidência em protesto contra o processo que pode cassá-lo; a polícia legislativa o retirou do local; houve restrição à entrada da imprensa no plenário sob justificativa de segurança; a transmissão oficial foi interrompida, em parte; e a sessão precisou ser suspensa, retornando apenas horas depois. Cada movimento desse roteiro tem consequências próprias, mas o conjunto forma um quadro difícil de ignorar.
A primeira pergunta é inevitável. Por que isso está se repetindo? O que leva um plenário, supostamente preparado para gerir conflitos, a beirar o descontrole em episódios que não deveriam ser comuns? O direito ao protesto é legítimo, inclusive dentro da Casa. O problema aparece quando a forma de protestar ultrapassa o limite do rito, invade simbolicamente o espaço da presidência e interfere no funcionamento coletivo.
Outro ponto sensível é a retirada da imprensa. A explicação oficial fala em protocolo de segurança. Os questionamentos falam em cerceamento. Entre as duas versões, há uma fronteira que exige absoluto cuidado: o acesso à informação é parte indissociável do processo democrático. Sempre que a transparência recua, cresce a sombra das versões paralelas. E isso nunca favorece a instituição.
Para além do episódio, a Mesa ocupa um papel que requer neutralidade e clareza. Pautas complexas como as de ontem (PL da dosimetria, que foi aprovado; a cassação de deputados), votações polêmicas e processos disciplinares aumentam a responsabilidade de quem conduz os trabalhos.
Decisões precisam ser justificadas em registro, com critérios objetivos e isonomia plena. Se a polícia foi acionada, que se apresentem os motivos. Se a imprensa foi retirada, que se publiquem as razões. Se houve excesso de qualquer lado, que a investigação venha com rigor.
Mas a pergunta central permanece. Por que comportamentos incompatíveis com a expectativa da sociedade estão se tornando corriqueiros? Ocupações da Mesa, empurra-empurra, narrativas acaloradas e gestos performáticos reduzem a política a um espetáculo que serve apenas a quem aposta no quanto pior melhor, não no diálogo.
O caminho de maturidade é conhecido, ainda que pouco praticado: responsabilização quando houver abuso, procedimentos claros e públicos, respeito aos espaços institucionais, previsibilidade e civilidade. A democracia não sobrevive sem essas âncoras.
E a Câmara precisa demonstrar, com atos e não apenas discursos, que está à altura do papel que ocupa.






























































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