Madonna e a arte de recomeçar
- Luis Alcubierre
- 23 de jul.
- 2 min de leitura
Há artistas que acompanham o tempo. Outros, mais raros, moldam o tempo à sua imagem e semelhança. Madonna Louise Ciccone é, indiscutivelmente, deste último grupo. Ao anunciar Veronica Electronica, seu novo álbum, a ser lançado nesta sexta-feira, a artista reafirma o que há quatro décadas a distingue: o diálogo constante com o presente sem jamais perder de vista suas raízes pop e a voz inconfundível que se tornou trilha sonora de gerações. Ela insiste em nos lembrar que reinventar-se não é apenas uma habilidade, mas uma escolha de vida.
Desde o início dos anos 1980, ela entendeu algo que a maioria dos artistas leva uma vida inteira para perceber: que a música, por si só, não basta. É preciso entregar experiência, estética, narrativa. Assim nasceram suas inúmeras pivotagens: da ousadia provocadora de Like a Prayer ao minimalismo eletrônico de Ray of Light, passando pela dança eufórica de Confessions on a Dance Floor. Cada etapa era mais do que um álbum: era um manifesto visual, uma performance estética, um recomeço.
Madonna surfou o zeitgeist com maestria, mas nunca foi apenas uma passageira dele. Foi arquiteta, impulsionando discussões sobre gênero, liberdade, corpo e arte com uma coragem que o mercado, muitas vezes, não estava preparado para absorver. Não cabe aqui revisitar as polêmicas que ela produziu, porque, convenhamos, foram tantas que cada uma daria um capítulo próprio. Mais interessante é pensar no que move Madonna a manter a chama acesa às vésperas de completar 67 anos.
Há algo profundamente inspirador nessa escolha. Em um mercado musical ávido pela novidade e pela troca incessante de ícones, ela nunca aceitou descer da prateleira mais alta. E talvez a chave esteja justamente aí: não se trata de vaidade, que no caso há bastante, mas de ímpeto criativo. Criar, colaborar com jovens talentos, ousar no som e na imagem são combustíveis que prolongam a vida, não apenas biológica, mas a vida como estado de espírito.
Vivemos mais. Queremos viver mais. E isso não é apenas um privilégio dos que se aproximam da terceira idade: é uma provocação para todos, inclusive para quem está apenas começando. A longevidade ganhou outro horizonte porque o futuro deixou de ser uma linha curta. Ele é um campo aberto para quem tem coragem de atravessá-lo com energia e propósito.
Madonna, com Veronica Electronica, nos lembra que viver é bom demais, ainda mais se for com criatividade, com intensidade, perto de gente jovem ou de gente nem tanto. Criar é um ato de resistência contra a finitude. É a maneira que ela sempre encontrou de afirmar, para si e para o mundo, que a luz está longe de perder o seu brilho.
Porque, no fim das contas, como ela mesma cantou um dia: “Time goes by so slowly for those who wait.” Madonna nunca esperou. Ela sempre criou o próximo tempo.

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