A outra medida do valor
- Luis Alcubierre

- há 6 dias
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Há uma discussão silenciosa ganhando corpo dentro das organizações. Por muito tempo, produtividade foi traduzida em métricas que, embora neutras na aparência, acabaram favorecendo perfis mais jovens. Velocidade como parâmetro absoluto, disponibilidade irrestrita como sinônimo de comprometimento, profundidade técnica como um requisito inflexível num mundo em que a tecnologia muda mais depressa do que qualquer ser humano consegue acompanhar. Nada disso foi criado para excluir. Mas, na prática, muitos desses indicadores se tornaram filtros indiretos que empurram profissionais maduros para as bordas do sistema.
Quando mencionamos que essas métricas podem ser punitivas, não estamos falando de intenção, mas de efeito. Um indicador que valoriza sempre quem responde mais rápido privilegia quem opera em ritmo de maratona como se fosse sprint permanente. Um critério que exige disponibilidade plena desconsidera a sabedoria acumulada de décadas e reduz o trabalho a mera presença contínua. Já o foco exclusivo na profundidade técnica ignora que o diferencial da maturidade raramente está no código ou na ferramenta. Está no julgamento, na tomada de decisão sob pressão, na capacidade de ler nuances políticas e sociais, na habilidade de mediar conflitos e no senso de responsabilidade que só se forma com tempo de estrada.
A boa notícia é que cada vez mais empresas começam a perceber que esse modelo é insuficiente para sustentar negócios complexos, ambientes regulatórios sensíveis e relações com stakeholders que mudam a cada ciclo. A produtividade moderna não cabe apenas nos relógios e dashboards tradicionais. Ela se manifesta em dimensões intangíveis, como a governança informal que evita crises, a mentoria que acelera trajetórias, o repertório histórico que impede decisões precipitadas, e a cultura preservada que reduz atritos e fortalece identidades coletivas. Esses elementos não são complementos. São verdadeiros multiplicadores de impacto.
Repensar métricas não significa negar eficiência, muito menos criar regimes de exceção para qualquer grupo. Significa ajustar a lente para mensurar tudo o que de fato gera valor. E isso envolve reconhecer que equipes intergeracionais produzem melhor justamente porque combinam energia e experiência, experimentação e prudência, velocidade e profundidade. Onde antes havia uma régua única, passa a existir um conjunto de indicadores que contemplam diferentes formas de contribuição, ampliando o espaço para que cada profissional seja avaliado pelo que entrega, não pela idade que tem.
O desafio, agora, é transformar esse entendimento em prática. Não basta comunicar discursos de diversidade etária, é preciso redesenhar processos, calibrar expectativas e, principalmente, revisar a cultura da avaliação. Quando a organização abre espaço para enxergar o valor pleno da maturidade, ela não apenas combate o etarismo. Ela acessa um patrimônio que estava subutilizado. A economia da longevidade já está aí. O que falta é coragem para medir o que realmente importa.






























































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