Maurício de Souza, um brasileiro essencial
- Luis Alcubierre 
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Chegar aos 90 anos com a leveza de Mauricio de Sousa é um privilégio reservado aos que compreenderam o sentido maior de criar: tocar pessoas. Criador de universos, construtor de valores e educador informal de gerações, ele segue inspirando o país com a mesma ternura e humildade de sempre, embora não esteja mais dando expediente em seu estúdio.
No início da minha carreira, vivi um período em que as noites pareciam mais longas do que deveriam ser. Foi ali que encontrei nos quadrinhos da Turma da Mônica um remédio inesperado. Um território de afeto e esperança. Assinei a revista por anos. Não era fuga nem nostalgia. Era, parafraseando Cervantes, o alívio de uma tristeza que me mantinha acordado. Aquelas páginas simples, de humor e humanidade, ainda que, como os tempos, marcadas por certa crueza e uma linguagem coloquial, foram um antidepressivo poderoso.
Um domingo, por acaso, encontrei Mauricio na fila de uma peça infantil, o Show Colosso, de Luiz Ferré e Beto Dornelles, no Teatro Gazeta. Não perdi a oportunidade. Disse a ele o quanto era grato pelo que havia criado e pelo que, sem saber, havia me proporcionado. Ele me olhou com aquele sorriso largo e respondeu com a simplicidade dos sábios, de que o agradecido era ele, pelo carinho. Guardei esse instante como se fosse uma lição e uma experiência que não precisava de selfie.
Ao longo das décadas, Mauricio não apenas desenhou personagens. Desenhou comportamentos. Soube evoluir com a sociedade, incorporar a diversidade, dar espaço à inclusão e às diferenças. Fez isso antes que essas palavras virassem pauta corporativa. Transformou o papel em espelho e, de algum modo, todos nós nos vimos ali, na coragem da Mônica, na astúcia do Cebolinha, na ternura da Magali e na persistência do Cascão.
Mauricio é mais que um desenhista genial. É um comunicador que compreendeu o poder de contar histórias. E o compromisso ético de fazê-lo com empatia. Sua obra é um gesto contínuo de amor pelo Brasil, pelas pessoas e pela convivência.
Aos 90 anos, o homem nos ensina que a eternidade não é uma questão de tempo, mas de significado.

Foto: Divulgação | Lailton dos Santos






























































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