Tarifaço Trump. A diplomacia do descarte
- Luis Alcubierre
- 9 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de abr.
A incerteza e a volatilidade escalaram os mercados por conta do Tarifaço Trump. Nunca o dito “fogo no parquinho” foi tão apropriado nesta brincadeira quase que infantil de elevar tarifas, receber réplicas, apresentar tréplicas e redefinir prazos da noite para o dia com praticamente o mundo todo.
O presidente dos Estados Unidos, tendo ou não razões em suas decisões, parece descartar convenções, rituais diplomáticos, conceitos e práticas pré-estabelecidas sobre como se pilota uma negociação. A abordagem que escolheu ilustra um ciclo vicioso de mentalidade protecionista que choca e ameaça o comércio global. Um tiro que pode sair pela culatra.
A China não abaixou a cabeça e devolveu tarifas, mas optou por um discurso mais equilibrado. É de registrar aqui a postura serena de Lin Jian, porta-voz e vice-diretor do Departamento de Informação do Ministério de Relações Exteriores do país, que contrasta com o discurso verborrágico e arrogante do presidente norte-americano. No Comitê Nacional Republicano para o Congresso, na terça-feira, Trump ironizou líderes de ao menos 70 países que buscam uma negociação mais vantajosa afirmando que todos o estavam bajulando.
Essa postura provocadora nem de perto se assemelha à histórica linha diplomática dos Estados Unidos, liderada tanto por governos democratas como por republicanos. A entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio) demonstra um compromisso com o multilateralismo enquanto a abordagem dos Estados Unidos ratifica sua unilateralidade na questão.
Analistas alertam para uma possível recessão global, um cenário que traria consequências negativas para todos os países. A equação é simples: menos transações comerciais, maior volatilidade no mercado financeiro, menos investimentos, menos produção, menos empregos e maior pobreza, assim como desigualdades. A grande mídia tem gente muito melhor do que eu para falar disso, então falemos de algo sobre o qual posso dar palpite.
Falemos daquilo que deveria ser o centro de qualquer negociação internacional: o respeito à lógica do diálogo. Negociar não é gritar mais alto. É ouvir. É pesar argumentos. É construir uma ponte que respeite tanto os pilares de quem a projeta quanto os de quem vai atravessá-la. Diplomacia não é guerra travestida de fala mansa. Ela é, ao contrário, um exercício paciente de entendimento, onde cada gesto, cada palavra e até mesmo cada silêncio cumprem um ritual próprio, os chamados cerimoniais, que, longe de serem enfeites, são o alicerce do entendimento entre as nações.
Ignorar esse jogo fino e substituí-lo por imposição e escárnio é minar as bases da convivência internacional. Negociar não é vencer. É sustentar uma relação. Se o objetivo, no entanto, é colocar o pé na porta, atropelar protocolos e desrespeitar as regras do tabuleiro, então não estamos mais em um estado de equilíbrio. Estamos em guerra.

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