Quando Madonna respeitosamente se curvou ao ABBA
- Luis Alcubierre
- 8 de ago.
- 2 min de leitura
Lá vou eu com a Madonna de novo. Em 2006, ela queria voltar a dançar, mas não sozinha. Queria trazer com ela uma memória coletiva. Um som que não apenas embalasse pistas de dança, mas que atravessasse gerações. E então, ousou o que muitos já haviam tentado sem sucesso: usar um sampler (trecho musical) do grupo sueco ABBA. No caso, o clássico “Gimme! Gimme! Gimme!”.
A gente até podia imaginar que ela, com sua fama, império e influência, simplesmente usaria. Mas não foi o que aconteceu. Madonna escreveu uma carta. Uma carta! Não mandou advogados. Não mandou recado. Escreveu com as próprias palavras, com a reverência de quem entende que a grandeza não está apenas em criar algo novo, mas também em saber dialogar com o passado. Pediu permissão. Justificou. Explicou o conceito da música que viria a se chamar Hung Up, uma faixa que, aliás, se tornaria um dos maiores sucessos de sua carreira.
Björn Ulvaeus e Benny Andersson, os cérebros criativos do ABBA, sempre foram notoriamente cuidadosos com o uso de suas obras. Já tinham recusado incontáveis pedidos. Mas dessa vez, ouviram. E cederam. Não porque ceder seja uma fraqueza, mas porque reconheceram ali o raro equilíbrio entre ambição artística, respeito e propósito.
Essa história vai além de uma curiosidade da cultura pop. Ela é uma metáfora para os nossos tempos. Em um mundo em que muita gente quer “pivotar” para o novo sem reconhecer o valor da origem, em que inovação vira sinônimo de descarte, vale lembrar: os grandes também pedem licença.
E talvez seja essa a verdadeira força da Comunicação: não gritar mais alto, mas saber quando calar, escrever uma mensagem e esperar a resposta. Como profissionais, líderes, marcas ou instituições, que saibamos abri espaços.
Que sejamos capazes de reconhecer que usar não é o mesmo que pertencer, e que a construção de reputações passa, invariavelmente, pela delicadeza das relações.

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