Quando a mentira ganha voz e rosto
- Luis Alcubierre
- 4 de jun.
- 2 min de leitura
Não faz nem três anos. Foi em novembro de 2022 que o mundo conheceu o ChatGPT. De repente, a inteligência artificial saiu dos fóruns e laboratórios e bateu na porta da gente com cara de assistente. Educada, rápida, prestativa. Como negar ajuda a um ser que responde tudo com um “claro, posso sim”?
O problema é que esse “ser” não veio sozinho. Ele chegou acompanhado de outras versões, algumas éticas, outras nem tanto. Vozes, imagens, vídeos. Todos prontos para parecerem reais. E, cá entre nós, os desenvolvedores estão cada vez melhores nisso. Se antes as fake news já incomodavam pelas mãos e mentes de gente mal-intencionada, agora a mentira ganhou upgrade. A mentira tem voz. Tem expressão facial. Tem entonação, contexto, até emoção. E aí, a pergunta que não sai da minha cabeça: vamos acreditar em quê? Em quem?
Não custa repetir: a inteligência artificial é bem-vinda. Não é ela o problema. O problema é cair no conto. E o drama é que esse conto está cada vez mais bem contado. Com o avanço de plataformas como o VEO3 e outras que chegam diariamente ao mercado, o que parecia ficção virou realidade, ou algo indistinguível dela.
Se o leitor comum já não diferencia jacaré de crocodilo, imagina tentar diferenciar um vídeo real de um deepfake perfeitamente montado, com uma voz que engana até a mãe do próprio personagem. E tem mais: o ano que vem é ano de eleição majoritária no Brasil. Seja bem-vindo ao jogo de xadrez mais sujo dos últimos tempos, onde os peões serão algoritmos, e os reis, narrativas. Gênios da política ficarão ainda mais gênios. Mas não por serem mais preparados e sim mais armados. Com imagens falsas, vídeos falsos, histórias falsas. Tudo com cara de verdade.
Será preciso muito repertório para não cair no canto da sereia. Será preciso mais do que atenção: será preciso preparo. Não passamos nem do primeiro estágio no combate às fake news, e já estamos jogando a fase final de um game que a maioria não entendeu ainda.
Falemos mais sobre isso. Alertemos, expliquemos compartilhemos caminhos, dicas práticas, exemplos reais. Discutamos formas de proteger o pensamento porque ele está sendo atacado por todos os lados. Não se trata de viver desconfiado, mas de viver mais antenado. Só não fiquemos reféns diante do uso político, criminoso e sistemático da mentira, porque a verdade nunca precisou tanto da gente.

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