Pregadores do vento
- Luis Alcubierre
- 21 de ago.
- 2 min de leitura
De tempos em tempos, surgem vozes que prometem saídas rápidas, certezas prontas e um suposto caminho único para a salvação. É a retórica usada como anestesia: acalma a dúvida, mas embota o senso crítico. Quando a palavra se separa dos fatos, ela vira truque. Nas mãos de falsos profetas, transforma inquietação legítima em obediência cega.
A história conhece esse roteiro. Dos pregadores do deserto antigo aos púlpitos medievais, e das seitas do século XX a líderes carismáticos de hoje, a combinação de fé, carisma e simplificação extrema já conduziu multidões ao erro. Por aqui, o terreno é fértil para malandros de ocasião que erguem o arcabouço de seus interesses em nome de Deus, explorando fragilidades reais para vender soluções que só beneficiam o próprio projeto.
O manual é previsível. Primeiro, divide-se a sociedade entre “os puros” e “os impuros”. Depois, cria-se uma urgência artificial. O “agora ou nunca!”. Em seguida, entram os truques: emoção no lugar de prova, medo no lugar de argumento, e falácias que empurram a plateia para respostas fáceis: falso dilema, bode expiatório, apelo à maioria, narrativas que não aceitam perguntas. O resultado é um público sem espaço para refletir, apenas para aplaudir.
A defesa é conhecida e madura: instituições fortes, transparência e método. Perguntas simples derrubam discursos complicados: Por que conclui isso? Quem ganha? Onde estão os dados? Qual o custo escondido? Quem confere o prometido e com qual critério? Bons líderes convivem com o escrutínio, admitem limites, mostram evidências e aceitam nuances. O que não suporta perguntas não merece crença. Merece verificação.
No fim, conta o que se sustenta. Palavras com base entregam serviço público, não culto. Formam cidadãos, não rebanhos. A retórica tem valor quando serve à verdade, não quando a disfarça. Melhor a sobriedade que ilumina do que a eloquência que cega. E uma sociedade adulta escolhe, com calma e firmeza, os fatos e a liberdade acima do encanto dos promissores de ocasião. Não nos deixemos enganar.

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