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Os fios invisíveis e o cansaço

Em noite de festa na grande arena, um boneco foi erguido para delírio da multidão. O gesto, de aparente simplicidade, tinha o peso de um pacto: apropriar-se da mística de outro, herdar-lhe a aura, conquistar-lhe os fiéis. Mas ali não havia grandeza, apenas a repetição de um truque ultrapassado. O boneco não era símbolo de força, mas de dependência.


De um lado, persiste o populismo estridente, que transforma slogans em certezas e paixões em armas. Do outro, sobrevive o populismo sorridente, que embala o país há tanto tempo, sustentando-se na mesma lógica: a de se oferecer como único caminho, ainda que incapaz de propor alguma novidade. Ambos reduzem a política a uma peça de teatro.


E aqui está o paradoxo: quem levanta o boneco se apresenta como ventríloquo, mas já se move segundo uma coreografia ditada por outros. Quem parece guiar, também é guiado. Quem promete futuro, recicla passado. O boneco, no fundo, revela não a força de quem o exibe, mas o vazio de quem precisa dele para existir.


O cansaço é visível. A cada encenação, renova-se a esperança de que, talvez agora, o espetáculo mude. Mas basta olhar para trás: os ciclos se repetem, apenas com atores diferentes no centro do palco. O público, dividido, continua aplaudindo símbolos emprestados, incapaz de perceber que a verdadeira escolha é recusar a marionete.


O futuro exige coragem. Coragem de cortar os fios, recusar tanto o populismo do grito quanto o do sussurro, e abandonar os bonecos que aprisionam a imaginação nacional. Porque nenhum país se reinventa enquanto precisar de marionetes para aplaudir.


ree

 
 
 

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