Onde está o RH da TCA, meu Deus do céu?
- Luis Alcubierre
- há 4 dias
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A TCA continua sendo aquele experimento corporativo que parece escrito para nos lembrar, com ironia, de como o poder pode ser mais teatral do que estratégico. Odete Roitman (Deborah Bloch), elegante e letal, comanda como se fosse rainha absoluta; Marco Aurélio (Alexandre Nero), o ex-genro que nunca aceitou o papel de figurante, desvia milhões e opera um comando paralelo com o mesmo talento de quem joga cartas marcadas. A empresa vive de intrigas tão bem coreografadas que qualquer manual de governança ficaria parecendo literatura infantil.
No cenário, o RH é pura ficção. Talvez exista em alguma ata escondida, mas ninguém jamais o viu na sala de reuniões, muito menos mediando os choques de vaidade e ambição que explodem a cada capítulo. É o tipo de organização em que os comunicados são escritos no ar, as políticas de compliance valem menos que o cafezinho e a cultura corporativa é uma mistura de suspense e comédia involuntária. Quem nunca trabalhou em uma companhia onde promoções são decididas em jantares fora da agenda, onde “reunião estratégica” é sinônimo de briga de egos e onde o clima organizacional é medido pelo humor do poderoso do dia?
É justamente nesse ambiente que floresce o nosso diretor de Marketing e Comunicação, Mário Sérgio (Thomás Aquino). Não se deixe enganar pelo cargo pomposo: de guardião de reputação ele nunca teve nada. Entre um sorriso no lobby e um cochicho no corredor da cobertura, faz conluio com Freitas (Luis Lobianco), seduz a própria dona da empresa e atua como leva-e-traz, um agente duplo sempre disposto a traficar informações. Um conciliador que adorava uma faísca, típico de profissionais que, em muitas empresas de verdade, confundem networking com articulações de corredor.
Mas o capítulo de hoje dá a Mário Sérgio um duro golpe em seu propósito. Ele se despede da trama depois de tomar um comprimido envenenado por Odete que na verdade tinha como destino o CEO Marco Aurélio. Morre do jeito que viveu, zanzando entre bastidores, confundindo alianças e surfando no caos que ajudou a criar. Para um RH inexistente, é quase um carimbo de atestado. Quando não há quem zele pela ética ou pelas relações internas, o destino acaba sendo decidido no improviso. Ou no veneno.
Enquanto isso, Consuelo (Belize Pombal) insiste em ser a exceção que prova a regra. Honesta, sensata e de uma dignidade quase irritante, ela atravessa esse mar de intrigas com uma integridade que faria qualquer headhunter sorrir. Em empresas reais, sempre existe essa figura. Aquela que, mesmo cercada de egos inflamados e atalhos tentadores, insiste em fazer o que é certo. É a prova de que ainda há espaço para caráter, mesmo quando o organograma parece escrito em tinta invisível.
As situações que vimos na novela são didáticas. Comitês que existem só no papel, auditorias engavetadas, comunicados disfarçando decisões de bastidor, cargos distribuídos por proximidade afetiva, fornecedores preferenciais sem licitação, e canais de denúncia que voltam com respostas automáticas genéricas ou, pior, permanecem mudos. Quando a cultura é moldada por lideranças que jogam em raia própria, áreas importantes na mediação acabam virando figurantes.
No fundo, o folhetim escrito por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, e adaptado por Manuela Dias, traduz com certo humor e tensão que as empresas sem um RH atuante, sem uma boa Comunicação Corporativa e um Legal Compliance (a turma que costuma trabalhar pesado no saneamento), correm o risco de transformar a realidade em vale tudo. Aos colegas de profissão que pretendem encarar a posição deixada por Mário Sérgio, a má notícia é que ninguém ainda descobriu o endereço de e-mail ou o WhatsApp do recrutador de talentos da TCA.

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