O valor da espera
- Luis Alcubierre
- 7 de out.
- 2 min de leitura
Ontem, em muitas casas brasileiras, um momento curioso tomou conta das salas de estar. O remake de Vale Tudo chegou ao episódio em que Odete Roitman é assassinada. Um dos marcos da teledramaturgia nacional. Mas, desta vez, o assassino não foi revelado. A resposta ficará para o último capítulo.
Em uma dessas casas, a minha, adolescentes acompanharam a cena com expectativa. A tensão aumentou, o episódio terminou, e o silêncio se misturou à incredulidade. “Mas quem foi?”, insistiram, como se a demora na revelação fosse uma afronta. A impaciência tomou o lugar da surpresa. E ali, naquela inquietação tão própria da juventude, revelava-se algo maior. Uma geração que se acostumou a ter todas as respostas aqui e agora.
A espera, no entanto, é uma escola. Ensina sobre paciência, sobre o domínio das emoções, sobre a capacidade de conviver com o inacabado. Nela, mora uma emoção que o imediatismo é incapaz de gerar: a de construir expectativas, de imaginar possibilidades, de saborear o tempo. O mistério, quando respeitado, tem valor pedagógico. Ele nos devolve a arte de suportar o intervalo. E de encontrar beleza nele.
Vivemos a era da pressa. Tudo é “para ontem”, tudo precisa ser resolvido “agora”. É o império da resposta instantânea, da validação contínua, da recompensa imediata. E esse vício da urgência não se limita à vida digital. Ele contamina as relações, as empresas, as decisões. Queremos resultados antes da maturação, reconhecimento antes da entrega, sucesso antes do mérito.
Mas o tempo continua sendo o único mestre verdadeiro. A espera dá densidade às experiências, torna os resultados mais legítimos e as vitórias mais humanas. O amor, a amizade, a carreira, a confiança, tudo o que realmente importa é fruto da constância, da construção e da paciência.
Por isso, o episódio de Vale Tudo foi mais que entretenimento. Foi um aprendizado disfarçado de roteiro. Ao fim e ao cabo, a espera pode ser mais emocionante do que a própria descoberta, porque é nela que mora a imaginação, a esperança, o desejo.
A felicidade, afinal, não é um destino. É o caminho. E o caminho é feito de tempo, de pausas, de capítulos ainda não revelados.
Talvez, quando o último episódio for ao ar, esses jovens, e todos nós, compreendamos que o verdadeiro prazer não está em saber o fim da história, mas em viver intensamente o percurso até ele.

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