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O silêncio que fala

Há algo fora da ordem e, sejamos honestos, um tanto universal no ato de enviar uma mensagem e vê-la se dissolver no vácuo. Perguntas que ecoam sem resposta, comentários que somem no abismo do grupo de WhatsApp, e-mails que nunca encontram uma linha de retorno. É o novo normal? Ou apenas uma desatenção coletiva disfarçada de falta de tempo?


Quando o diálogo acontece entre desconhecidos, podemos até conceder o benefício da dúvida. Talvez a abordagem tenha sido inoportuna, o canal inadequado, o "timing" equivocado. Mas entre pessoas que se conhecem, a ausência de resposta não é um simples ruído de comunicação. É um gesto (ou a falta dele) que carrega significado.


Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que sobreviveu aos campos de concentração nazistas, escreveu que “a essência da existência humana está na responsabilidade para com o outro”. Em sua visão, ignorar alguém não é apenas uma falha de etiqueta, é uma quebra simbólica desse fio que nos conecta.


Na hiperconectividade, a ironia é que nunca estivemos tão desconectados naquilo que importa: a atenção plena ao outro.


E há, claro, o clássico “eu te ligo” ou o lendário “vamos marcar”. Frases que deveriam ter sido tombadas como patrimônio imaterial da procrastinação social brasileira. Todos nós já dissemos (e ouvimos) isso sem a menor intenção de cumprir. São pequenos rituais de fuga, uma cortina de fumaça educada para escapar de compromissos reais.


A psicóloga americana Sherry Turkle, que pesquisa o impacto da tecnologia em nossas relações, aponta que “a comunicação digital nos dá a ilusão de companhia sem as demandas de uma relação real”. Talvez o “deixar no vácuo” seja uma consequência disso: a crença inconsciente de que basta estarmos disponíveis online para que a conexão esteja assegurada.


Mas, convenhamos, custa tanto assim um simples “recebido”, um emoji, um “respondo depois”? A ausência de resposta não nos faz parecer mais ocupados ou importantes. Faz-nos parecer descuidados. E a boa educação, essa que vai além de regras de etiqueta e revela consideração genuína, está justamente nos pequenos gestos.


Respeitar o tempo e a expectativa do outro não é só uma questão de protocolo. É uma escolha ética. Um lembrete de que, por trás de cada mensagem ignorada, há uma pessoa que poderia estar tentando construir uma ponte. Ou, no mínimo, manter uma em pé.


Da próxima vez que você soltar um “vamos marcar”, faça o teste: marque de verdade. A surpresa será tamanha que talvez ganhe até um amigo novo.

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