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O ouro escondido nas dobras do tempo

ESPECIAL PARA A AGE FREE WORLD


A longevidade e a busca por qualidade de vida ampliaram as perspectivas de carreira profissional e passou a hora das empresas revisarem seus paradigmas. Além da experiência acumulada, o grupo de profissionais com mais de 50 anos tem carregado na mala uma energia renovada, apetite por desafios, além da sabedoria que o tempo e os hiatos de carreira souberam moldar.

Segundo dados do IBGE, o Brasil tem hoje cerca de 30 milhões de pessoas com mais de 50 anos economicamente ativas. No mundo, a consultoria McKinsey aponta que até 2030, um em cada quatro trabalhadores em países desenvolvidos terá mais de 55 anos. Ignorar esse potencial é desperdiçar um dos recursos humanos mais valiosos e subestimados do presente. Para transformar o cenário, as empresas precisam eliminar filtros automáticos que descartam candidatos por idade, revisando práticas e treinando recrutadores para valorizar trajetórias e não apenas cargos recentes. Programas como o “Talentos 50+” da Maturi Jobs e as iniciativas da Labora têm mostrado, na prática, que plataformas direcionadas conseguem integrar profissionais experientes com startups e grandes corporações de forma produtiva quando há valorização genuína de trajetórias e saberes. E é escavando além da superfície, indo além dos currículos tradicionais, que se descobrem os verdadeiros talentos.

Muitos desses profissionais desejam continuar ativos no mercado. Ainda aceitam de bom grado as cargas horárias tradicionais, mas também estão dispostos a encarar novas formas de trabalho, como jornadas mais flexíveis, oportunidade de atuar como mentores ou projetos temporários, sem contar cargos consultivos, funções de mentoria intergeracional ou mesmo reposicionamentos dentro de equipes, que promovem inclusão e o surgimento de talentos que se expressam para além dos rótulos padronizados. Nesse garimpo, há joias que só a experiência e a passagem dos anos são capazes de polir.

Além disso, é preciso romper com o mito da resistência tecnológica. Muitos profissionais 50+ estão ávidos por aprender, acompanhando com interesse tudo o que envolve a digitalização, a inteligência artificial e novas ferramentas e processos automatizados. A experiência da BMW na Alemanha, que reconfigurou suas linhas de produção para integrar trabalhadores maduros, aliando ergonomia e formação contínua, mostra que oferecer cursos de atualização, oficinas presenciais e tutoria personalizada permite que as novas tecnologias se tornem aliadas, e não barreiras. Oferecer trilhas de upskilling e reskilling significa investir no futuro desse grupo e do próprio negócio.

 

Outro passo fundamental para avançar nessa agenda é adotar indicadores de diversidade etária, assim como já se faz com questões de gênero e raça. Incluir a idade nos relatórios de diversidade e estabelecer metas reais são gestos concretos de compromisso, como faz a EY (Ernst & Young) ao inserir inclusão etária entre os objetivos das lideranças e das áreas de RH. Quando a liderança passa a enxergar isso, abre-se um espaço de diálogo mais rico e inovador.

Por fim, construir um ambiente acolhedor, sem estigmas, é essencial. A cultura organizacional precisa celebrar as histórias, valorizar experiências e promover encontros que unam gerações. Rodas de conversa, datas de celebração, campanhas internas que mostrem trajetórias reais ajudam a criar pertencimento e orgulho, combatendo preconceitos silenciosos e estimulando novas conexões. Somente em um ambiente assim os talentos maduros sentem-se seguros para compartilhar suas trajetórias, porque não se trata apenas de gerar espaço para os experientes, mas preparar os mais jovens para atuar com eles.

O que tem me chamado a atenção em alguns profissionais 50+ com os quais tenho conversado, e que estão retornando ao mercado de trabalho, é que o fazem com mais equilíbrio emocional, inteligência relacional e foco em resultados. Após um intervalo ou um ciclo de formação e atualização, levam além do conhecimento, mas uma nova forma de lidar com o estresse, a pressão e os conflitos corporativos. Como disse Sêneca, “O avanço da idade é consequência da sabedoria, não seu obstáculo”. As empresas que ainda não abriram os olhos para as possibilidades dos talentos 50+ estão, de fato, deixando passar a riqueza do conhecimento, o discernimento e a resiliência. Se a velocidade é atributo fundamental, é na visão analítica, madura e de longo prazo que se equilibram decisões estratégicas e faz-se emergir o ouro escondido nas dobras do tempo.



 
 
 

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