O inevitável futuro prateado
- Luis Alcubierre
- há 4 dias
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O 1º encontro do Conselho Maestro do Movimento Bstory apresentou esta semana o relatório “Brasil Prateado – Insight # 01: Economia Prateada no Brasil”, pesquisa inédita conduzida pela Data8, referência em estudos sobre longevidade. O documento traz uma constatação incontornável: a geração 50+ deixou de ser uma tendência. É o presente e, sobretudo, o futuro inevitável do País.
Já somos 59 milhões de brasileiros com mais de 50 anos, segundo a ONU. Em menos de duas décadas, os prateados representarão 40% da população nacional. O que a França levou mais de um século para viver, o Brasil atravessará em apenas duas décadas. Não se trata de futurologia, mas de demografia. E ela é implacável.
Enquanto o mercado debate as boas contribuições das gerações Z e Alpha, a transição demográfica avança silenciosa, alterando a base da pirâmide etária e provocando uma mudança estrutural na economia, no consumo e na própria sustentabilidade do Estado.
Se o país não souber incluir de forma produtiva e respeitosa sua população mais experiente, não haverá crescimento, não haverá emprego e não haverá recursos para financiar a previdência.
A pesquisa mostra que, hoje, a economia prateada movimenta R$ 1,8 trilhão por ano no Brasil, o equivalente a 24% do consumo privado nacional. Em 20 anos, esse número deve duplicar, alcançando R$ 3,8 trilhões. Globalmente, estamos falando de um consumo de US$ 22 trilhões anuais, de acordo com a Oxford Economics. Um oceano que muitos insistem em não navegar.
Mas há um dado que revela um traço ainda mais simbólico dessa miopia mercadológica: o consumo per capita dos 50+ é 38% maior que o da população abaixo de 50 anos, e mesmo assim, os produtos e serviços destinados a eles permanecem limitados. Mais consumo, menos diversificação. Invisibilidade que não se justifica e tampouco se sustenta.
O estudo da Data8 mostra também que os setores de saúde, moradia e alimentação são predominantes na cesta de consumo prateada. Até 2034, o segmento de saúde, pública e privada, deverá crescer 21%, chegando a representar 43% do total do consumo nacional nessa área. É um movimento que impactará diretamente o desenho de políticas públicas, o planejamento das empresas e a própria estrutura do trabalho. E também o "modus vivendi" das pessoas, que passarão a prevenir mais do que remediar.
Estamos, portanto, diante de uma inflexão histórica: a economia da juventude cede lugar à economia da experiência. A geração que mais gerou riqueza na história humana continua disposta a consumir, produzir, aprender, empreender, mas o mercado ainda não se dispôs a ouvi-la.
É hora de superar a narrativa do envelhecimento como peso e enxergá-lo como potência. A longevidade é uma conquista civilizatória e o verdadeiro desafio é transformar essa conquista em inclusão. A sociedade que negligenciar seus maduros condenará o próprio futuro. O Brasil prateado não é um sonho distante. É o espelho no qual já começamos a nos enxergar.

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