O fim da diplomacia
- Luis Alcubierre
- 25 de jul.
- 3 min de leitura
Já houve tempos em que a diplomacia era vista como o mais nobre dos instrumentos da civilização, um esforço coletivo que evitava catástrofes e promovia a negociação e a coexistência entre nações. Em 1962, durante a Crise dos Mísseis de Cuba, o mundo segurou a respiração ao testemunhar os líderes das duas maiores superpotências, John F. Kennedy e Nikita Khrushchev, negociarem à beira da aniquilação nuclear. Em 1993, o Acordo de Oslo trouxe a esperança de paz no Oriente Médio, apesar de suas promessas fragmentadas. Em meio à sombra de guerras, foi a diplomacia que garantiu momentos de respiro para a humanidade. No entanto, esses exemplos parecem hoje ecos distantes de uma habilidade que o mundo desaprendeu.
O início do século XXI viu a quebra gradual do pacto não apenas entre governos, mas também entre povos. A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos foi menos a origem e mais o sintoma de um movimento global que substituiu o diálogo político pela imposição, o respeito mútuo pela bravata. Desde então, a fuligem da retórica bélica se espalhou. No Brasil, a retirada recente do país da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto sinaliza um retrocesso em compromissos humanitários. A França, em setembro, promete se distanciar dos consensos diplomáticos multilaterais ao reconhecer o Estado Palestino, enquanto Israel, numa resposta de violência desproporcional, transforma Gaza em um cemitério para dezenas de milhares de pessoas, entre elas inúmeras crianças. O Oriente Médio e a África se tornam arenas de conflitos intermináveis, varrendo sociedades inteiras, e o equilíbrio mundial é sufocado pela fumaça da violência.
Ao mesmo tempo, a ameaça atômica retorna como um espectro que já conhecemos, mas que nunca foi tão abrangente. A Rússia e a Coreia do Norte reforçam a sua retórica contra o Ocidente, enquanto o Irã é alvo de atenção internacional por sua política nuclear cada vez menos transparente. Em contrapartida, as potências da OTAN se posicionam como guardiãs do mundo, mas preferem muitas vezes o cálculo econômico ao diálogo construtivo. Os Estados Unidos, há muito autointitulados zeladores da ordem mundial, hoje brincam com tarifas como se fossem sanções morais, escolhendo aliados e vilões à conveniência dos seus interesses financeiros. Onde antes a diplomacia construía pontes, agora só vemos muros. E eles estão se multiplicando.
Mas talvez o reflexo mais gritante dessa decadência esteja na nossa convivência cotidiana. A desordem que impera entre as nações parece se refletir nas relações interpessoais. Onde antes buscávamos entendimento em nossas diferenças, hoje muitos escolhem o caminho da hostilidade, da intolerância, da incapacidade de ouvir. O bullying virou lugar comum. Redes sociais, que poderiam ser uma arena para o debate e o aprendizado mútuo, amplificam as divisões, perpetuando um ciclo de agressividade. Se a diplomacia entre países é o espelho de uma civilização que acredita na negociação e no benefício coletivo, o que podemos esperar de um mundo onde as pessoas já não estendem a mão umas às outras?
Nunca estivemos tão distantes do equilíbrio. A diplomacia, tanto entre nações como entre pessoas, está submersa em uma crise que vai muito além de eventos isolados. O mundo parece ter esquecido que a negociação é mais poderosa do que a imposição, que a empatia é mais transformadora do que a força. Em tempos como este, a lamentação não apenas é justa. É necessária. Se não resgatarmos a arte do diálogo, corremos o risco de transformar o fim da diplomacia no prenúncio do fim de algo ainda maior.

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