O estranho caso dos executivos bumerangue
- Luis Alcubierre
- 19 de mar.
- 2 min de leitura
O estranho caso dos executivos bumerangue começa como uma história bastante comum nos dias de hoje. Trata-se daquele perfil que, em um determinado momento, decide investir na sua presença digital, posicionando-se como uma referência no LinkedIn. Você vê esses executivos por aí: textos elaborados, insights por vezes profundos sobre carreira, liderança, inovação. Suas publicações acumulam curtidas, comentários, compartilhamentos. É como se estivessem em todas as conversas relevantes, participando de toda a evolução do mundo corporativo em tempo real. Até que, de repente, eles somem.
O sumiço não é discreto porque, na verdade, o mais discreto é quem nunca esteve por ali. O desaparecimento só parece evidente porque a presença já tinha se tornado um hábito, parte das redes do leitor. A explicação quase sempre é prática: conseguiram aquele cargo-alvo, um grande projeto dominou suas agendas ou o tempo, de repente, tornou-se escasso. Eles deixam de escrever e passam a investir aquele mesmo esforço na execução do trabalho, justificando a pausa. E assim a voz, que antes parecia sempre ativa, desaparece em um mar de outras publicações.
O retorno, no entanto, segue uma lógica curiosa. Normalmente, ele acontece após um rompimento. O emprego dos sonhos não era tão dos sonhos assim, a empresa passou por uma reestruturação, ou a dinâmica da carreira os colocou em uma situação mais vulnerável. E então eles voltam a aparecer, reconstruindo devagar a sua voz, como se o público fosse uma rede confiável sobre a qual podem cair e recomeçar. O ciclo se reinicia: publicações cheias de propósito, reflexões acerca de resiliência e aprendizado. Dessa vez, prometendo uma abordagem nova, mais autêntica, mais madura.
Veja, isso não é uma crítica, importante que se diga. Não se trata de apontar dedos como se fosse um problema peculiar desses executivos. Talvez seja, antes de tudo, um reflexo bastante humano. Em momentos de estabilidade, buscamos olhar para dentro, para as entregas, para os resultados concretos. Nessas horas, o apelo público pode soar supérfluo ou fora de lugar. Já nas transições, na busca por novas oportunidades, voltamos ao exercício da visibilidade. Pode até ser um mecanismo de adaptação, de sobrevivência no meio corporativo, onde ser visto e lembrado faz toda a diferença.
No fundo, talvez todos sejamos um pouco bumerangues, alternando entre a necessidade de nos mostrar e o desejo de recolhimento. O LinkedIn, nesse contexto, só se torna uma lupa. Amplifica essas idas e vindas, escancarando um comportamento que, se não existisse a plataforma, poderia muito bem passar despercebido. É estranho, sim, mas também incrivelmente revelador sobre como tentamos equilibrar demandas externas e internas em um mundo que nunca para de nos exigir movimento. Talvez o verdadeiro aprendizado dos executivos bumerangue não esteja nas ausências ou nos retornos, mas em como, de algum jeito, seguir é o que importa.

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