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O espelho quebrado das redes

A ilusão virou negócio. As redes sociais, que nasceram para conectar pessoas, tornaram-se o palco de uma das maiores indústrias de manipulação da atualidade: a que vende sorte, sucesso instantâneo e riqueza fácil. Por trás de uma estética polida (às vezes nem tanto) e de um discurso “inspirador”, prospera uma engrenagem criminosa que usa o figurino do domínio digital.


Os chamados “influenciadores” que promovem apostas, rifas e sorteios sabem exatamente o que fazem. Transformam o desespero alheio em modelo de negócio. Jogam com a esperança de quem acredita que pode mudar de vida com um clique, enquanto exibem viagens, carros importados e mansões conquistadas à custa de quem perdeu o pouco que tinha. Há poucos anos, muitos deles mal tinham onde cair mortos. Hoje, pousam em Dubai, dirigem Ferraris e vendem a ilusão de que “você também pode”.


O que vendem não é sonho, é engano. E o que alimenta esse ciclo não é mérito, mas um sistema que recompensa a esperteza disfarçada de talento. São intermediários de sites ilegais, garotos-propaganda de casas de apostas, organizadores de esquemas que o noticiário já cansou de revelar. A lógica é simples: quanto mais gente iludida, maior o lucro.


O Brasil se tornou terreno fértil para esse tipo de crime. Pela desigualdade, pela falta de educação financeira, pela fragilidade institucional e por uma cultura que, há décadas, confunde esperteza com inteligência. Enquanto isso, as brechas legais seguem abertas. Janelas que permitem que essa engrenagem prospere. A regulação que tenta conter o problema chega tarde demais, porque o dinheiro já circulou, a influência já se consolidou e a impunidade se instalou.


É preciso dizer com todas as letras que o uso criminoso das redes sociais é uma das faces mais perversas da contemporaneidade. Esses influenciadores não estão apenas enganando, estão corrompendo a organização social. Tornam o ilícito algo desejável, o oportunismo algo admirável, e o xaveco, um modelo de vida. Não há alternativa. Quando a mentira se torna entretenimento, a sociedade inteira fica enfraquecida.


A justiça começa a reagir, é verdade. Há CPIs, investigações, leis em andamento. Mas nada disso substitui o senso moral que se perdeu. Porque a raiz do problema está na nossa tolerância ao que “dá certo”, mesmo quando é errado. É a indiferença com que vemos gente enriquecer enganando. É a glamourização do pilantra digital.


O Brasil não precisa de novos ídolos de mentira. Precisa de gente que construa, não que explore. De quem entenda que influência é responsabilidade, não privilégio. Que ética não é um acessório, é o mínimo.


Enquanto isso não for regra, continuaremos a ver os mesmos rostos sorrindo nas telas, refletindo, em cada filtro, o espelho quebrado de um país que ainda não aprendeu a diferenciar sucesso de vergonha.


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