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Governar sem plateia: o custo da política de megafone

A política de megafone seduz porque simplifica o complexo e entrega aplauso instantâneo. Em ambientes corporativos e nos públicos, o efeito é o mesmo: decisões passam a ser tomadas para a plateia, não para o problema. O que parece coragem vira espetáculo; o que deveria ser negociação vira duelo. A consequência é previsível: coalizões frágeis, volatilidade reputacional e incapacidade de sustentar políticas consistentes no tempo.


Executivos e conselheiros reconhecem o padrão: agendas estratégicas substituídas por “sprints de narrativa” e métricas de engajamento que vestem a fantasia da autenticidade. A busca por likes é um imposto oculto sobre a governabilidade, porque troca legitimidade silenciosa por popularidade barulhenta. Stakeholders percebem o descompasso: promessas públicas que não casam com a capacidade operacional, prazos performáticos que estouram, esforço interno consumido por danos colaterais.


Sair desse ciclo exige reconstruir o “quarto silencioso” da liderança: espaços de decisão protegidos de holofotes, com rituais de negociação e contrapesos claros. Transparência não é megafone, é prestação de contas com contexto, tempo e evidência. Governança eficaz combina canais discretos com marcos públicos. Comunicar o que importa, quando agrega valor, sem transformar cada dilema em espetáculo.


A provocação final é simples. Popularidade é um insumo instável e a legitimidade é um ativo composto. Governar sem plateia não significa ausência de comunicação, mas domínio de cadência. Líderes que resistem ao megafone economizam capital político, protegem a execução e preservam a capacidade de mudar de ideia sem ser reféns do próprio discurso.


#Imagem: Coronel Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira e personagem de Paulo Gracindo em O Bem Amado.


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