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Egos e Traições

Elon Musk, que em 2016 não poupava críticas a Donald Trump - chegou a chamar de “irresponsável” a saída dos EUA do Acordo de Paris -, surpreendeu ao doar mais de US$ 250 milhões para a campanha presidencial de 2024. Nascia ali uma lua de mel que prometia fundir tecnologia, finanças e governo. Musk foi convidado a coordenar o “Departamento de Eficiência Governamental”, projeto informal para enxugar despesas federais sob o nome de inovação. Trump passou a chamá‑lo de “o homem que vai acabar com o desperdício”, e Musk o elogiava como o presidente que finalmente levaria modernização ao Congresso. Parecia a convergência de dois visionários.


Nos primeiros meses, Trump chamou o empresário de “Presidente Musk”, enquanto Musk subia ao palco ao lado dele, como quem celebra uma vitória antecipada. Houve promessas de cortar até US$ 2 trilhões em gastos, número que acabou reduzido a US$ 150 bilhões. A ideia era simples demais para ser romântica: tornar o governo mais “enxuto”. Em discursos, falavam de eficiência como se fosse poesia aplicada. A plateia aplaudia, convencida de que nada poderia dar errado.


Mas o encanto se desfez quando Trump lançou o “Big Beautiful Bill”, pacote tributário que, longe de conter custos, inflaria o déficit em mais de US$ 2,4 trilhões. Musk, até então cúmplice das metas presidenciais, chamou o projeto de “desperdício abominável” e declarou que não aceitaria medidas que sacrificassem educação, saúde ou pesquisas científicas. Trump reagiu como quem se sente traído por um aliado: ameaçou puxar contratos federais da Tesla e SpaceX, dizendo que, sem lealdade, não haveria favores a empresas que o abandonassem. Atingido, Musk insinuou nas redes que Trump guardava segredos sobre o escândalo sexual de Jeffrey Epstein, desencadeando o rompimento. Num piscar de olhos, as ações da Tesla despencaram 14% e as da Trump Media caíram 8%. O estrago ficou visível na imagem pública de ambos.


O divórcio escancarado mostra como mágoas íntimas e ressentimentos antigos corroem qualquer aliança forjada por conveniência. Musk se sentiu reduzido a mero caixa eleitoral. Trump, que desde sempre cultiva o culto à lealdade, encarou a discordância como ofensa pessoal. Dois homens que sabiam trabalhar com números e algoritmos parecem ter esquecido a fórmula mais elementar: a humildade. O resultado foi uma escalada de ofensas que se manifestou em posts ácidos, discursos inflamados e retóricas que beiram a comunicação violenta. A briga virou espetáculo. 


Para além dos holofotes, resta a pergunta que não quer calar: quando o poder e o dinheiro desviam a atenção para o que realmente importa, qual o legado? Se Musk e Trump chegaram a uma aliança com potencial de alterar rumos, acabaram enredados no jogo de egos em que vencer o outro se tornou mais urgente do que servir a coletividade. 


Nas entrelinhas de qualquer disputa, sobra um convite à simplicidade para tornar possível a eficiência em busca do bem comum. O problema é que a vaidade cega.



 
 
 

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