Crise sem fronteiras na saúde mental
- Luis Alcubierre
- 2 de out.
- 2 min de leitura
Se há algo que a saúde mental ensina, é que ela não faz distinções. Não escolhe idade, classe social, raça, credo ou gênero. Ela atravessa gerações, espaços e contextos, afetando a humanidade de forma cada vez mais evidente e preocupante. Hoje, do adolescente que enfrenta a pressão acadêmica somada à intoxicação digital dos celulares, aos jovens adultos em busca de crescimento profissional sob gigantescas expectativas, passando por pais de primeira viagem em meio a noites maldormidas, trabalhadores exaustos por rotinas extenuantes, ou veteranos obrigados a se reinventar em um mercado que insiste em fechá-los, todos são vítimas em potencial das complexidades da vida moderna.
Dados alarmantes ajudam a dimensionar o problema. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária-Anvisa, o consumo de antidepressivos no Brasil praticamente dobrou na última década, enquanto a venda de ansiolíticos e analgésicos segue uma curva ascendente. Em 2023, o Ministério da Saúde destacou um registro de mais de 11 milhões de brasileiros diagnosticados com transtornos depressivos, e isso sem incluir os casos que permanecem invisíveis, abafados pelo estigma ou pela falta de acesso a recursos de saúde. Esses números refletem a gravidade da situação e também as soluções de curto prazo que a sociedade tem adotado: paliativos que aliviam agora, mas perpetuam um ciclo de sofrimento e dependência.
Para o trabalhador que enfrenta horas no transporte público e não vê o salário cobrir o básico, ou para o jovem bombardeado por padrões inalcançáveis nas redes sociais, a solução parece ser "ir empurrando", seguindo, sobrevivendo. Mas isso cobra seu preço. A falta de reflexão coletiva e individual incentiva a criação de problemas ainda maiores, tornando cada vez mais difícil o retorno a um estado saudável.
Apesar do cenário desafiador, há caminhos. Empresas precisam priorizar o diálogo e a saúde mental no ambiente de trabalho, enxergando pessoas. Em casa, é fundamental resgatar o espaço da escuta, em que pais conversem com filhos sem julgamentos, e casais encontrem tempo para acolher as dificuldades um do outro. Escolas deveriam incluir educação emocional em suas grades, ajudando jovens a entender e gerenciar suas emoções. Governos precisam investir em redes de apoio acessíveis e desestigmatizar o tratamento mental. Como indivíduos, precisamos aprender a desacelerar, a acolher nossas falhas e a valorizar soluções de longo prazo, mesmo diante do imediatismo crescente.
No ritmo em que estamos, a saúde mental pode se tornar o colapso definitivo da sociedade. Mas ainda há tempo para um “alto” coletivo, para a reflexão e o agir. A saúde mental é uma questão individual, mas sobretudo um reflexo coletivo da nossa capacidade, de priorizar o que realmente importa. Sem ela, não há como enfrentar os desafios inevitáveis da vida de forma saudável e plena.

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