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Corinthians. A vitória sobre a razão

O Corinthians não nasceu. O Corinthians aconteceu. Surgiu como uma epifania, um raio no meio da várzea, um gesto de insubordinação de homens simples que ousaram fundar um clube para chamar de seu. Enquanto outros jogavam de terno branco e sapato de verniz, o Corinthians brotou do chão batido da Ponte Grande, com calos nas mãos e barro nos pés. Foi o grito da rua, o sopro do povo, a contradição viva do Brasil.


O torcedor corinthiano não torce. Reza. Ele não aplaude. Se entrega. E sofre. No entanto, esse sofrimento não é dor, é privilégio. Porque torcer para o Corinthians é habitar a tragédia grega em versão paulistana. O Corinthians nos ensina que a vitória não é uma paisagem, é um Everest. E que a derrota, ah, a derrota é apenas um ensaio geral para a apoteose que virá.


Se o futebol é a religião leiga do Brasil, o Corinthians é a missa campal onde o operário, o poeta, a dona de casa e o presidente dividem o mesmo banco. A democracia corinthiana provou isso: não era apenas futebol, era política, era sociedade, era o Brasil experimentando a liberdade com chuteiras. Sócrates, o meu ídolo, com a cabeça erguida e o passe iluminado, não jogava apenas a bola. Ele lançava ideias. E essas ideias continuam ressoando nos becos e avenidas de um país que ainda tateia pela democracia.


Não se pode falar do Corinthians sem falar da torcida. Porque o Corinthians é sua torcida. Uma multidão, massa em estado febril. É uma procissão pagã. Quando o time entra em campo, são milhares de corações batendo na mesma frequência de fé. Há corinthianos que nasceram, viveram e morreram no hiato entre títulos. Porque ser corinthiano não é escolher, é ser escolhido.


Os títulos vieram, as glórias se empilharam, os estádios se renderam. O mundo, um dia, viu o Corinthians ser campeão mundial. E não foi só uma vez. Em ambas as conquistas o sonho de várzea alcançou a glória. Mas, a bem da verdade, a maior conquista corinthiana não se mede em troféus. Mede-se em lágrimas. Mede-se em gargantas roucas, em madrugadas insones, em corações acelerados de uma torcida que não cabe em si mesma.


O Corinthians é a metáfora perfeita da vida brasileira: desigual, sofrida, mas invencível. O Corinthians não tem torcedores, tem devotos. E esses devotos sabem, como quem sabe da própria alma, que o Corinthians é mais do que futebol. É destino, é sina, é poesia que sangra.


Hoje, ao completar 115 anos, o Corinthians prova que não é velho. É eterno. Eterno como a paixão, eterno como a fé, eterno como o amor que não se explica, apenas se sente. Parabéns, Corinthians!


ree

 
 
 

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