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Anorexia do conhecimento

A expressão “anorexia do conhecimento”, apresentada num Reels do Thiago Godoy, do perfil @papaifinanceiro, no Instagram, acerta no alvo: não é a falta de informação que nos empobrece, é a recusa do pensar. O vídeo mostra um adolescente ironizando Aristóteles. Thiago lembra por que estudá-lo importa. Não se trata de culto ao passado, mas de higiene intelectual. Nossa evolução como sociedade sempre nasceu de mentes inquietas que ousaram questionar o óbvio. Regride, porém, quando aceitamos certezas rasas embaladas para viralizar.


O dilema está à vista. Enquanto conteúdos superficiais atraem multidões, reflexões mais densas mal alcançam dez reações. O algoritmo não inventa isso. É programado para isso, amplificando a escolha coletiva por likes rápidos em detrimento da substância. A armadilha é sutil: confunde-se visibilidade com relevância, volume com entendimento, e terceirizamos nosso juízo para feeds que premiam o imediato.


Aristóteles surge aqui como símbolo útil. Representa método, disciplina do pensamento, lógica em movimento. O contrário da dieta vazia que nos deixa “cheios” de conteúdos e “famintos” de critérios. Cada época teve sua versão de superficialidade. A nossa apenas ganhou escala e velocidade. Se tudo vira entretenimento, o esforço de compreender perde espaço para a opinião. O risco é coletivo. Formamos cidadãos que sabem deslizar telas, mas não distinguir evidência de retórica. Profissionais que dominam ferramentas, mas não estruturam problemas. Lideranças que medem tudo, menos a qualidade da decisão.


A boa notícia é que a saída não depende de plateia, mas de hábitos. Ler devagar e anotar para metabolizar ideias. Escrever para pensar, não apenas para publicar. Perguntar “com base em quê?” antes de concordar ou discordar. Confrontar fontes, buscar o argumento mais forte do lado oposto, reservar blocos de tempo sem distração para ligar conceitos. Em organizações, isso se traduz em rituais.


O caminho vale para todas as gerações. Jovens não são “o problema”, nem adultos “a solução”. Há adolescentes que pensam fundo e executivos que terceirizam o raciocínio ao algoritmo. E vice-versa. O recado é transversal: escolhas cognitivas têm consequências sociais. Quando trocamos investigação por slogans, abrimos espaço para charlatanismo, sectarismo e decisões ruins que aparentam consenso. O antídoto é cultivar repertório e disciplina intelectual como prática cotidiana, não como ato ocasional de indignação.


Aos pais, um pedido direto: façam da curiosidade um ambiente, não um evento. Conversem sobre o que viram juntos, perguntem “por que você pensa assim?”, comparem versões de uma mesma notícia, mantenham um ritual de leitura em casa, celebrem o esforço e o método mais do que a nota ou o viral. Ensinem que informação é matéria-prima; conhecimento é obra.


No fim, precisamos de método e coragem de pensar quando o resto pede pressa. É assim que se alimenta a mente e se preserva o que nos fez evoluir como sociedade.


ree

 
 
 

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