A ousadia não tem idade

Quando Roberto Marinho criou a Rede Globo em 1965, já havia passado dos 60 anos, idade na qual poucos apostavam em novos começos, ainda mais em um Brasil mergulhado em instabilidades políticas e sociais. A emissora que ele ergueu chega agora aos mesmos 60 anos de seu criador quando a inaugurou. Ela moldou, para o bem e para o mal, grande parte da cultura, do jornalismo e da comunicação no País. Um feito inegável, fruto da ousadia, da visão empresarial e também das complexidades humanas que marcam qualquer grande trajetória. A Rede Globo é, sem dúvida, a mais completa tradução de pioneirismo e qualidade televisiva, comparada às melhores do mundo.

No entanto, é impossível falar desse legado sem reconhecer suas contradições: o apoio a governos autoritários, o uso político de seu império midiático e as críticas sobre a concentração de influência. Roberto Marinho é exemplo de como até os projetos mais grandiosos carregam em si tanto luzes quanto sombras. Negá-las seria romantizar. Reconhecê-las é entender que a maturidade também significa saber lidar com imperfeições.

Sua história desafia o etarismo que ainda persiste. Aos 60+, Marinho liderou uma revolução no modo como o Brasil se comunica. Em um tempo em que se prioriza tanto o "novo", talvez seja hora de lembrar que a capacidade de transformar, para construir ou corrigir, também nasce da experiência e do olhar de quem já viveu o suficiente para entender a complexidade deste mundo em que vivemos.