A despedida de nossas referências
- Luis Alcubierre
- 8 de set.
- 2 min de leitura
Somos feitos de muitas camadas: da educação que recebemos em casa, das lições que absorvemos na escola, das conversas que nos marcaram e, sobretudo, das referências que nos acompanharam ao longo da vida. Não apenas pessoas próximas, mas também aquelas que, sem sequer sabermos, moldaram nosso olhar sobre o mundo com sua arte, seu talento e sua coragem criativa.
A música, a literatura, o teatro, o cinema, todos esses universos alimentam o que há de mais íntimo em nós. São fontes silenciosas de identidade. Por isso, quando nos despedimos de grandes nomes que fizeram parte dessa jornada, sentimos que um pedaço da nossa própria história se despede também.
A notícia da morte de Rick Davies, fundador do Supertramp, aos 81 anos, vítima de um câncer, trouxe de volta esse sentimento de vazio. Seu piano, suas composições, sua voz, quantas vezes estiveram presentes em momentos meus, embalaram dias de inquietação ou simplesmente deram cor ao cotidiano. Lembro com nitidez da tristeza que senti, aos 14 anos, quando ele se separou de Roger Hodgson, após Famous Last Words. Para mim, era como se algo maior do que uma parceria musical tivesse se perdido: era a sensação de que o mundo ficava um pouco menos mágico.
É inevitável. A finitude faz parte da vida. Mas a cada partida de um artista que marcou gerações, é como se a paisagem do mundo perdesse um de seus contornos mais nítidos. A geração criativa e genial dos anos 60 e 70, que revolucionou a música, a cultura, a forma de pensar e sentir, está partindo. E com ela, vai-se um pouco da ideia de que havia sempre alguém capaz de tornar os dias mais luminosos.
Talvez a melhor forma de nos despedirmos de nossas referências seja continuar deixando que elas nos habitem. Porque a verdadeira herança não está apenas na obra que ficou, mas na maneira como ela seguiu nos moldando. Se hoje sentimos a ausência, é porque um dia fomos profundamente tocados por sua presença.

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