Raízes que falam
- Luis Alcubierre
- 7 de ago.
- 2 min de leitura
Há vidas que se entrelaçam com lugares, com pessoas, com épocas, como se o destino decidisse bordar memórias em diferentes territórios da existência. O mundo corporativo, por outro lado, parece ter desaprendido a olhar para raízes. Valoriza a velocidade, celebra o instantâneo e, muitas vezes, descarta a experiência como se ela fosse um arquivo desatualizado. Pior: em nome de uma modernidade pasteurizada, abre mão até de sua própria história, afastando-se dos valores e do propósito que a construíram. Quantos profissionais extraordinários, com trajetórias robustas e resultados consistentes, encontram-se subitamente invisíveis aos olhos de um mercado obcecado por métricas e tendências?
E, no entanto, esses mesmos profissionais carregam o que nenhuma inteligência artificial, nenhum algoritmo e nenhum manual de negócios pode oferecer: a capacidade de construir pontes. Eles sabem que comunicação não é só sobre mensagens, mas sobre escuta. Que governança não é só compliance, mas valores aplicados. Que reputação não é apenas imagem, mas consequência. E é justamente essa consciência, muitas vezes desprezada por uma visão corporativa ansiosa por reinvenções instantâneas, que sustenta a longevidade das organizações.
É um paradoxo curioso: a mesma sociedade que hoje idolatra a juventude acelerada e as ideias que cabem em 280 caracteres será aquela que, amanhã, buscará a maturidade de quem já atravessou crises, mudanças e reconstruções. Porque só a experiência tem o traço da coragem serena, aquela que não se abala com modismos, que não se curva a lideranças tóxicas, que não negocia princípios em nome de cargos. No fim, é essa coragem que permite às empresas sobreviver e permanecer fiéis ao que as fez nascer.
O valor da experiência transcende o tempo. Não se mede em números ou títulos, mas em integridade, resiliência e na capacidade de inspirar confiança verdadeira. Em tempos de incertezas e transformações aceleradas, são esses valores que constituem o alicerce para construir relações duradouras, reputações sólidas e culturas organizacionais saudáveis, algo que nenhuma teoria da moda consegue replicar.
Há uma verdade silenciosa aqui: o talento íntegro jamais se perde. Pode até ser temporariamente ignorado por estruturas miúdas, mas é exatamente dele que organizações precisarão quando os ciclos de espuma se desfizerem e a ética voltar a ser um ativo estratégico. Porque marcas, assim como pessoas, vivem de raízes. E as raízes sempre falam.

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