O futuro é processo, não destino
- Luis Alcubierre

- 31 de jul.
- 2 min de leitura
Peter Drucker costumava dizer que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Portanto, o futuro não é um destino, mas um processo. E mais do que isso, um compromisso. Ele não se revela em um salto, mas se desenha, todos os dias, com gestos, escolhas e omissões que fazemos agora.
A era que vivemos nos fascina com seus avanços tecnológicos, suas promessas de aceleração e suas fronteiras digitais. Mas é fácil confundir movimento com direção. O verdadeiro motor da transformação continua sendo o humano. Nossa capacidade de imaginar, de atribuir sentido, de transformar recursos em relações; dados em decisões éticas. Criar o futuro não é empilhar inovações, é dar propósito a elas. É alinhar a potência da tecnologia à sensibilidade da criatividade. E quando essa convergência acontece, deixamos de operar na lógica da escassez para ensaiar possibilidades de abundância.
Criar o futuro é, antes de tudo, uma forma de responsabilidade. Não há caminho sustentável que ignore o planeta, as pessoas e os paradoxos que nos cercam. Produzir mais, sim, mas a que custo? Alimentar bilhões, claro, mas com quais práticas e critérios; quais valores? Falar em futuro exige maturidade para refazer perguntas incômodas sobre o presente: o que estamos fazendo com os recursos, com os territórios, com o tempo dos outros, com os vínculos que fragilizamos ou fortalecemos?
Toda criação carrega uma escolha política, ambiental e ética. E carrega também uma escolha estética, porque a beleza de um mundo mais justo também se constrói na forma como tratamos uns aos outros. O abismo da desigualdade não é um acidente histórico, mas um projeto. E como todo projeto, pode ser revisto. Pode ser corrigido. Nunca estivemos tão perto da possibilidade de incluir e, paradoxalmente, tão despreparados para isso. Democratizar o acesso, abrir as portas do conhecimento, fazer da educação um direito real e não uma promessa retórica. Tudo isso é criação de futuro. Criar é incluir. Inovação que exclui é ornamento.
As narrativas que perduram são aquelas que reverberam. E não há criação verdadeira sem escuta, sem considerar também os que ainda não nasceram. Os que ainda não foram convidados à mesa. Os que ainda não tiveram a chance de dizer o que pensam. Criar o futuro é um ato de generosidade intergeracional. É plantar árvores sabendo que talvez só nossos filhos ou netos vão colher a sombra. Mas plantá-las mesmo assim.
O futuro, portanto, não virá pronto. Ele não será entregue em um download. Ele exige intenção, atenção e, principalmente, ação. Vai requerer de nós menos certezas e mais coragem. Menos aceleração e mais direção. Porque nossa maior entrega não será o que deixarmos para trás, mas o que formos capazes de fazer brotar no tempo presente. A inovação começa onde termina o medo. E os mundos que queremos não se conquistam: se inventam. Juntos.






























































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