A troca
- Por Luis Alcubierre
- 5 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de mar. de 2024
Respeitando o fairplay, mudar de emprego não deveria ser uma questão polêmica.
Como já amplamente divulgado e comentado, Neymar Jr. deixou Barcelona e foi para Paris. As notícias em torno da contratação surpreenderam tanto pelas cifras envolvidas na negociação - a maior da história do futebol -, quanto pelo fato do jogador deixar um dos melhores e mais vencedores clubes do mundo para se transferir para o rico, porém modesto em títulos, Paris Saint-Germain. Movimentações como essa no esporte são vistas com muita paixão por torcedores e dirigentes, sejam eles do antigo como do novo clube, pois amplificam o ódio dos que se sentem traídos e a felicidade dos que acabam de conquistar um novo amor.
No mundo corporativo, as cifras costumam ser mais modestas quando falamos de craques, mas as traições e amores também acontecem. São inúmeros os profissionais que deixaram suas posições para assumir responsabilidades em empresas similares. Na maior parte dos casos (níveis técnicos e gerenciais), isso não é um problema. Só que bem diferente da esfera esportiva, a ida de um executivo de alto nível para a concorrência tende a gerar um forte desequilíbrio no mercado, uma vez que informações confidenciais podem ditar prejuízos para quem o empregava e vantagens, às vezes não lícitas, para quem o contratou. Em todas as situações que requeiram, entretanto, cláusulas de não-concorrência são impostas para que esse tipo de situação seja evitada. No caso de Neymar, a barreira estava “apenas” em uma multa rescisória de R$ 821 milhões, que acabou sendo paga, e no julgamento do fairplay financeiro, mecanismo imposto pelas autoridades para se evitar quebra das instituições.
A transação de Neymar Jr. é emblemática porque nos traz mais uma vez à mente a questão da mudança de emprego. O que o levou a deixar uma posição confortável, com status de estrela, em um lugar incrível, em um clube vencedor, para ir a outro lugar, às vezes aparentemente menos compensador, apesar de ser a cidade-luz? A resposta veio do próprio jogador na entrevista coletiva concedida um dia depois de sua ida a Paris: “Estou extremamente feliz. O que me motiva é saber que o PSG e sua torcida querem conquistar títulos importantes. Existe essa ambição. Estou na Europa há quatro temporadas e senti que era hora de sair para este desafio”.
Por trás das palavras de Neymar Jr., não se engane, há uma série de outras frases não ditas, mas igualmente legítimas de serem assumidas. O atleta, apesar de jogar um esporte coletivo, não quer mais ser a sombra de ninguém. Almeja romper com os títulos individuais de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, que desde 2008 vencem o prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa; pretende mostrar sua capacidade de liderança, ainda mais agora que se sente mais maduro após o fracasso da Copa do Mundo no Brasil e de seus rompantes comportamentais (é justo afirmar que deixaram de acontecer); e também quer ser lembrado na história do esporte por ter conseguido finalmente uma Champions League para o Paris Saint-Germain.
Além disso, deve assumir responsabilidades adicionais no clube, um número maior de contratos de publicidade e, claro, uma remuneração que seguramente o ajudará ainda mais a não se preocupar com o preço dos combustíveis, apesar de ter um jatinho Cessna 680.
Se o dinheiro de fato não era um problema e agora muito menos, fiquemos com as razões que levaram Neymar Jr. a deixar o certo pelo duvidoso: a certeza de que a travessia será desafiadora, um novo idioma será aprendido e as responsabilidades já não serão tão compartilhadas. O benefício, no entanto, será proporcional ao risco.
Por fim, algo que não gostaria de deixar passar: a preparação do atleta também fora de campo. Agora, muito melhor orientado, foi capaz de demonstrar em sua entrevista de boas-vindas o desejo de dar o salto com energia alta, respeito às regras, às instituições e aos colegas. Ainda que alguns torçam o nariz, o garoto é o novo fenômeno.






























































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