O eclipse da estrela. Quando talento não substitui disciplina
- Luis Alcubierre

- 28 de out.
- 2 min de leitura
O clássico do final de semana vencido pelo Real Madrid diante do Barcelona, sob o comando do técnico Xabi Alonso, trouxe um episódio além da rivalidade esportiva. Ao ser substituído aos 27 minutos do segundo tempo, o atacante Vinícius Júnior reagiu indignado, com gestos e palavrões. Dirigiu-se ao vestiário e voltou ao banco claramente incomodado.
Esse comportamento revela muito sobre o que a idolatria a um jogador pode esconder: a crença de que o “momento estrela” confere imunidade à hierarquia. No futebol, como no mundo corporativo, o líder, seja o técnico ou o CEO, toma decisões estratégicas. Ele precisa saber rotacionar talentos, equilibrar egos e preservar o foco do time inteiro. Vinícius, mesmo com uma boa atuação, foi substituído. A reação pública do jogador evidencia uma fratura entre o “eu sou intocável” e o “eu sou parte do sistema”.
Contrastemos com figuras que viraram ícones não apenas pela técnica, mas pela postura. Pelé, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi raramente protagonizaram cenas de rebeldia em campo ou diante da comissão técnica. Cristiano, o mais temperamental dos três, não escondeu sua frustração com o técnico Fernando Santos na Copa de 2022, por ficar no banco de reservas, mas sua insatisfação não ultrapassou algumas caras e bocas. Jamais questionou publicamente a decisão do chefe.
A trajetória desses atletas foi construída com talento e disciplina para o coletivo, sabendo os limites que o poder de sua comunicação era capaz de alcançar. Aceitar a substituição, a má fase ou a decisão da liderança deveria ser entendida como parte da jornada, não como afronta à própria identidade.
Nesse ponto, vale perguntar: será que as pessoas que cuidam da carreira de um atleta ou de um executivo não o orientam em situações de crise? Será que o próprio profissional não percebe o risco de se tornar prisioneiro do próprio temperamento? Será que ao crescer em relevância, seja em um clube ou em uma empresa, alguém não deveria lembrá-los sobre o peso da inteligência emocional?
No ambiente corporativo, o reflexo é direto porque colaboradores talentosos que questionam publicamente decisões da liderança ou que acreditam estar acima do time criam instabilidade, comprometem a cultura e fragilizam a confiança. Atitudes de criança mimada em corpo de um adulto têm sempre impacto sobre o desempenho do grupo, a marca pessoal e o legado que se deixa.
O episódio serve de alerta. Talento gera visibilidade, mas não substitui humildade, alinhamento e respeito à hierarquia funcional. A idolatria do indivíduo se contrapõe à disciplina do sistema. E quem busca protagonismo maior que a causa coletiva acaba por perder credibilidade, não só no gramado, mas em qualquer organização onde a liderança e o espírito de equipe determinam o sucesso.

Foto: Sérgio Perez | EFE





























































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