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Desprezo pela vida e pela morte

A imagem passou a valer mais do que a experiência. Não surpreende, mas ainda choca. Pessoas esperaram horas na fila para, ao invés de prestar uma última homenagem ao Papa Francisco, tirar uma selfie diante de seu caixão. Como já aconteceu em Auschwitz, a foto não registra respeito, nem reflexão: registra vaidade. O instante que deveria ser de introspecção, silêncio e oração vira palco para mais uma cena de um roteiro banal, onde a reverência cede espaço à performance. 


O que nos levou a esse ponto em que o sagrado é usado como cenário, o luto como fundo, e a fé como moldura para likes? Perdoar é necessário, sim, mas também é preciso nomear: há algo profundamente fora do lugar. A falta de noção, que virou quase virtude nas redes, é a mesma que talvez conduza decisões sobre empregos, políticas públicas, relacionamentos, educação. 


Gente que não lê o tempo, nem o espaço, nem o outro. A selfie diante da morte é só o sintoma. O problema está na alma distraída, no olhar vazio, na pressa de eternizar um instante que deveria ser eterno por outro motivo: estima. Até quando vamos naturalizar o que jamais deveria parecer normal?



 
 
 

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