A reconquista silenciosa
- Luis Alcubierre

- 21 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de set.
O verde e o amarelo da bandeira brasileira sempre foram um convite à convergência. Símbolos de uma nação que, apesar de suas fraturas, carrega em si a pluralidade de identidades e a promessa de futuro compartilhado. No entanto, a apropriação partidária dessas cores pela direita radical, em um gesto de marketing político mais performático do que patriótico, reduziu por um tempo seu significado a uma bandeira de ocasião. Não era patriotismo, mas uma “patriotada” que confundiu símbolos nacionais com slogans eleitorais.
Quando um espectro ideológico sequestra cores que pertencem a todos, não as fortalece, esvazia-as. O resultado é que, após anos de uso como uniforme de protesto ou palco de polarização, o verde-amarelo ficou manchado por disputas que nada têm a ver com a ideia de Brasil. Enquanto isso, paradoxalmente, parte da esquerda ancorava-se no vermelho da luta de classes, um vermelho que, em nosso contexto, nunca representou equilíbrio ou amplitude, mas uma herança de lutas que não resume o país, mas uma ideologia que mais destruiu do que edificou.
O que vemos agora é uma reconquista silenciosa. O verde e o amarelo voltam às ruas em manifestações culturais, esportivas e até em eventos de mobilização social que reúnem vozes progressistas. Não se trata de revanche. É um gesto de recuperação do óbvio: nossas cores não pertencem a um partido, pertencem à cidadania. Ao mesmo tempo, cresce a consciência de que o vermelho, historicamente associado à esquerda, jamais traduziu as nuances da política brasileira e, para muitos, passou a simbolizar um legado que desperta críticas e desconfortos.
A direita radical, por sua vez, ao mirar a bandeira dos Estados Unidos como referência estética e ideológica, diluiu a própria narrativa nacionalista que pretendia sustentar. Abriu mão, na prática, do patrimônio simbólico que dizia defender. O resultado é que a hegemonia visual que parecia permanente evaporou-se na velocidade das redes sociais.
Talvez a grande lição seja a de que símbolos só permanecem vivos quando acolhem a todos. O verde-amarelo é a paleta de um país diverso, não a farda de um grupo. Recuperá-lo não é um ato de enfrentamento, mas de maturidade democrática. O reconhecimento de que o Brasil é maior do que qualquer disputa eleitoral ou alinhamento momentâneo. Hoje, quando vestimos essas cores, não escolhemos um lado, escolhemos o Brasil inteiro.






























































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