A ilusão dos holofotes
- Luis Alcubierre

- 29 de out.
- 2 min de leitura
O episódio desta semana do Profissão Repórter expôs uma radiografia inquietante do nosso tempo: o sonho de ser influenciador digital tornou-se, para muitos jovens, um objetivo de vida mais cobiçado que qualquer formação acadêmica.
Caco Barcellos e sua equipe mostraram, com a lucidez de quem observa e não julga, um universo em que o desejo de reconhecimento parece ter superado o da realização. De um lado, há adolescentes que, munidos apenas de um celular e alguma astúcia, conseguem hipnotizar milhões de seguidores.
Não pela profundidade do que dizem, mas pela capacidade de entreter e se expor. De outro, a massa silenciosa dos que, sem o mesmo carisma digital, sentem-se cada vez mais distantes de um sucesso que não depende mais de currículo, diploma ou mérito, no sentido clássico da palavra.
O fenômeno é fascinante e, ao mesmo tempo, alarmante. Estamos diante de uma inversão simbólica. Por décadas, o sonho da ascensão social esteve atrelado à educação formal, ao trabalho e à perseverança. Hoje, a lógica parece outra. Basta viralizar. A glória não é mais um ponto de chegada, mas um clique fortuito, um algoritmo generoso, uma plateia disposta a se distrair.
É preciso cuidado para não cairmos na armadilha do preconceito geracional. A internet democratizou vozes, permitiu que talentos genuínos emergissem de contextos antes invisíveis. Mas também nivelou por baixo o conceito de relevância. Ser ouvido não significa, necessariamente, ter algo a dizer.
O caso de Geisy Arruda é emblemático. Transformada em símbolo de uma era digital embrionária, ela sofreu bullying, foi humilhada e, ainda assim, encontrou na própria exposição um motor de reinvenção. O que seria tragédia virou oportunidade. Se profissionalizou, capitalizou sua imagem e, ironicamente, ganhou mais visibilidade (e talvez dinheiro) que toda a geração de universitários que a condenava.
A lógica de que a fama é o novo diploma revela muito sobre o momento cultural em que vivemos. Há uma profunda crise de referências. As profissões clássicas, que demandam estudo, tempo e dedicação, parecem lentas demais para os jovens que aprenderam a medir sucesso em views, não em conteúdo. O esporte e a música, antes as grandes metáforas da ascensão popular, cederam espaço ao palco dos influenciadores, onde o talento é performático e o mérito, efêmero.
A questão, no entanto, é mais social do que moral. Quando o sistema educacional é incapaz de inspirar, e o Estado falha em oferecer oportunidades reais, o entretenimento vira rota de fuga. O jovem que não enxerga futuro no estudo, busca audiência na tela. E o país, sem perceber, transforma carência em espetáculo.
No fundo, o que se escancara é a urgência de resgatar a noção de objetivos. Não se trata de condenar quem cria conteúdo - muitos o fazem com talento e responsabilidade -, mas de questionar o que estamos consumindo, e por quê.
Sem cultura, sem leitura, sem senso crítico, o país vira refém de sua própria superficialidade.






























































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