Quando o diálogo dá lugar à porrada
- Luis Alcubierre 
- há 7 dias
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Os tempos são alarmantes. Um episódio recente, o de um pai que, depois que sua filha foi advertida por usar o celular em sala de aula, invadiu a escola e agrediu o professor com socos e pontapés em uma escola do Distrito Federal, evidencia um sintoma profundo da sociedade. Nesse ato, encontramos não só violência física, mas uma metáfora cruel: a substituição da fala pela agressão; da reflexão pelo golpe.
Há quase sessenta anos, o Brasil era visto como o país do futuro. Tínhamos índices semelhantes aos da Coreia do Sul e estávamos mais avançados do que a China em alguns indicadores. Hoje, assistimos a um retrocesso que passa pelos valores, pelas atitudes e pela forma como nos relacionamos. A educação moldou essas nações e a falta dela tem destruído a nossa. E não perdemos o jogo só pelos conteúdos em sala de aula, mas pela ausência de componentes humanos essenciais: o respeito, o discernimento e a capacidade de dialogar.
O que vemos é uma doença silenciosa. Pais despreparados, sem filtro e sem maturidade para lidar com a complexidade das relações humanas no século XXI. Escolas que hesitam diante de fatos como esse. Professores acuados diante de famílias que confundem autoridade com agressão. Profissionais de todos os setores, mulheres, jovens, negros, pessoas com deficiência, expostos à truculência antes da escuta. O primeiro impulso não é a conversa, é o insulto. A resposta não é a ponderação, é o punho.
Esse tipo de episódio não é isolado. Ele reflete uma cultura que normaliza o golpe, o grito, a invasão de limites. A escola, lugar sagrado do aprendizado e da convivência, transforma-se em palco de espetáculo violento. O professor agredido relatou que estava sem condições de voltar a dar aula, tamanha a marca emocional da agressão. E, no fundo, é isso o que a violência faz. Corrói por dentro o que há de mais essencial em qualquer sociedade, a confiança no outro.
Perdemos também oportunidades de desenvolvimento. Uma nação que aspira ser competitiva, inovadora e inclusiva precisa de cidadãos com preparo para escutar, argumentar, discordar com respeito e agir com responsabilidade. Quando isso falha, inchamos a conta da violência simbólica, e muitas vezes física, nas escolas, nos ambientes de trabalho, nas ruas e nos lares.
Mas ainda é possível reagir. É urgente restaurar o valor da conversa, investir no preparo parental, empoderar as escolas como espaços de segurança e escuta, promover modelos de convivência baseados em valores humanos. Competência técnica não basta. Caráter, empatia e cidadania são ativos estratégicos de qualquer sociedade que queira se desenvolver.
O momento é decisivo. Se antes éramos capazes de prever um Brasil avançado, pujante e educado, agora precisamos reconstruir esse horizonte perdido. A violência em ambiente escolar, ou em qualquer ambiente social, é um grito de urgência para reavaliarmos o que fazemos, mas principalmente como nos relacionamos.
Quantas vezes privilegiamos a voz mais forte, em vez da mais humana? Quantas vezes permitimos que o confronto se instalasse antes da escuta? A resposta não está na punição, mas na reconstrução da cultura. Uma cultura de convivência e respeito. Um país educado nasce dos livros, mas sobretudo de atitudes.
E é por essa via, a lenta, a persistente, a difícil, mas essencial via, que podemos retomar o rumo. Pode começar numa sala de aula, numa reunião de pais, em um ambiente de trabalho, em uma reunião de condomínio. Porque, se a porrada precede a palavra, já perdemos metade da batalha.
Que possamos, enfim, virar a página. Da truculência à civilidade; da agressão à humildade; do insulto à reflexão. A educação, afinal, não é um gasto. É o investimento mais estratégico de uma nação que se recusa a permanecer no atraso.































































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