O talento precisa de tempo
- Luis Alcubierre 
- há 3 dias
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João Fonseca não é mais uma promessa. Neste domingo, na Basileia, o brasileiro de 19 anos conquistou seu primeiro ATP 500, superando o espanhol Alejandro Davidovich Fokina e tornando-se o primeiro do país a erguer o troféu. Um feito que consolida o que o circuito já intuía desde o fim de 2024, quando ele encantou o mundo ao vencer o Next Gen ATP Finals, torneio que revelou nomes como Alcaraz e Sinner.
O ATP 500 da Basileia é o desdobramento natural daquela ascensão. Antes desse torneio, Fonseca já havia vencido o ATP 250 de Buenos Aires, em fevereiro, confirmando que aquele brilho do Next Gen não tinha sido por acaso. Do início do ano para cá, o tenista brasileiro ganhou mais de 100 posições no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais. Com a vitória deste final de semana, desfruta agora da 28ª posição.
Mas cada conquista cobra o seu preço. Fonseca enfrentou este ano quedas nos Grand Slams de Melbourne, Paris, Londres e Nova York, críticas e o olhar impaciente que acompanha todo talento precoce. Somos, como sociedade, impiedosos com quem desponta cedo. Celebramos o instante da vitória, mas rapidamente exigimos mais, como se o talento bastasse sem amadurecimento.
O esporte é cruel nesse sentido. E o mundo corporativo não é diferente.
Tive um colega no início de carreira que viveu algo semelhante. Depois de liderar um projeto de grande exposição no mercado, foi demitido em um corte de estrutura. Até aí, uma situação que pode acontecer, mas o chefe, no anúncio do desligamento, disparou: “Você é craque, mas não estourou.”
O tempo mostrou o contrário. Ele se reinventou, foi expatriado e se tornou um dos principais executivos de sua área em grandes companhias nacionais e multinacionais ao longo da carreira. O que faltou não foi capacidade, mas suporte, paciência e um ambiente que o sustentasse.
Fonseca, felizmente, tem essa rede. Técnica e mental. Além disso, emocionalmente está cercado de quem o ajuda a crescer com consistência. E esse talvez seja o segredo. O talento dá frutos quando há estrutura. Promessas se perdem não por falta de brilho, mas porque não foram cuidadas, lapidadas ou receberam o tempo de maturação necessário. Por isso é tão importante uma liderança presente, inspiradora e acima de tudo visionária, que saiba fazer a leitura do potencial e trabalhe as peças do jogo de forma a adequar entrega com estratégia.
O primeiro grande título, no esporte ou na carreira, não é o fim do processo, mas o início de uma nova responsabilidade. A partir dele, o desafio é sustentar o brilho sem queimá-lo, transformando êxito em trajetória. Fonseca está fazendo isso com serenidade e método, virtudes raras na era da pressa.
Ele nos faz lembrar que o talento é apenas centelha. O brilho, para que dure, depende de cuidado, orientação, tempo e do compromisso coletivo de não desperdiçar quem pode até inspirar uma nova geração de talentos.

Foto: Fabrice Coffrini / AFP






























































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