Futuro que madura. Os 50+ e a intergeracionalidade entraram de vez na pauta
- Luis Alcubierre 
- há 6 dias
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Por muito tempo, o debate em torno da diversidade e inclusão foi focado, com razão, na reparação de desigualdades estruturais históricas. O crescimento de iniciativas voltadas às mulheres, negros e à comunidade LGBTQIAPN+ era e continua sendo essencial para equilibrar as forças em um mercado de trabalho que, por décadas, operou em uma lógica de exclusão. Essas causas avançaram, ainda que enfrentem desafios contínuos. No entanto, há uma realidade emergente que finalmente começa a ganhar espaço: a inclusão dos 50+ no debate sobre diversidade. Esse movimento não vem apenas para corrigir preconceitos, mas para colocar luz sobre o quanto estamos desperdiçando, como sociedades e organizações, ao negligenciarmos a experiência, o conhecimento e a sabedoria acumulada desse público.
A resistência histórica em enxergar os profissionais mais experientes como parte ativa do futuro corporativo e social é reflexo de um preconceito tão estruturado quanto aquele que afeta outros grupos minoritários. No entanto, no centro dessa exclusão, há uma ironia gritante. Ao ignorar os 50+, o mercado de trabalho está abrindo mão não só da potência, mas de resultados, ainda mais agora quando vemos mais empresas clamando por inovação em tempos de fortes pressões e transformações digitais. Como gerar essas soluções se desprezamos justamente as pessoas que já atravessaram crises, disrupções, transformações complexas e que podem servir como âncoras em tempos nebulosos?
Não se trata apenas de corrigir uma injustiça social. É também sobre repensar uma dinâmica essencial para o funcionamento saudável das organizações e da sociedade. O debate ao redor da inclusão dos 50+ trouxe um tema igualmente relevante e fascinante: a intergeracionalidade. Não é suficiente criar espaço para os mais maduros, tampouco para os mais jovens. A essência de qualquer avanço significativo está em descobrir como potencializar a convivência e a troca de habilidades entre gerações. Mais do que coexistir, as gerações precisam construir juntas.
Por muito tempo, narrativas clichês travaram o avanço desse diálogo. Ainda é comum ouvir frases que limitam as contribuições de cada grupo: os jovens servindo apenas como “nativos digitais que respiram tecnologia” e os mais experientes sendo vistos apenas como “reservatórios de sabedoria pronta”. Essa falsa dicotomia reduz o potencial de ambas as partes e desconecta as empresas de realidades mais amplas. Experiência não se opõe à inovação, assim como nativo digital não é sinônimo de conhecimento pleno.
Outro ponto de reflexão central, e urgente, é o papel fundamental das oportunidades de trabalho na construção de uma sociedade equilibrada. As empresas precisam dar continuidade à valorização dos 50+, criando trajetórias que permitam que esses profissionais sigam contribuindo em papéis relevantes. Ao mesmo tempo, é imperativa a geração de oportunidades para os mais jovens que ainda não tiveram uma chance no mercado. Este é um ponto crítico especialmente no contexto do avanço da inteligência artificial. Substituir empregos simples por máquinas pode parecer uma decisão racional no curto prazo, mas, na prática, coloca em risco a sucessão de líderes futuros. Se os jovens não tiverem experiências iniciais para aprender a complexidade e a lógica dos negócios, quem irá manter o motor do mercado em movimento nos próximos 20 ou 30 anos?
Apesar do presente cenário ainda marcado por vieses e resistências, há sinais de progresso. Recentemente, iniciativas destacadas de inclusão intergeracional têm surgido no terceiro setor e em empresas conscientes do seu papel no desenvolvimento socioeconômico. Dados mostram que o mercado ainda é majoritariamente preconceituoso com os mais experientes. Chefes que preferem candidatos mais novos para funções-chave não por competência, mas por uma crença equivocada de que energia e inovação moram exclusivamente aos 20 ou 30 anos.
Mas também já é visível o início de uma transição. Alguns setores estão mais atentos aos riscos de exclusão, e isso deve ser motivo suficiente para otimismo. Historicamente, mudanças comportamentais surgem primeiro na sociedade. As empresas, pressionadas por esses novos olhares, acabam por se adaptar, ainda que mais lentamente.
Não há como conter esse movimento. Quando debatemos diversidade, o foco não pode estar unicamente sobre um grupo, mas em criar contextos em que múltiplas vozes coexistam para o máximo impacto, uma vez que a força de trabalho é tão mais robusta quanto maior for a sua capacidade de incorporar talentos, seja dos que carregam a linguagem digital no DNA, seja dos que moldaram práticas ao longo de décadas de trabalho.
A mescla intergeracional é mais do que uma tendência, ela é o futuro. Ela nos lembra que o potencial humano, de todas as idades, dialoga. Ela propõe que lideremos com o exemplo de que diversidade de experiências é a base de qualquer avanço sustentável.
É chegado o momento de parar de falar sobre quem é prioridade no debate da inclusão. Todos os grupos podem e devem seguir suas agendas. Mas talvez a conversa agora seja sobre como fazer essas agendas dialogarem e se potencializarem. Não há nada mais essencial para transformar o mercado de trabalho de uma vez por todas.































































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