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O valor que o dinheiro não compra

O futebol, não é de hoje, virou um grande mercado financeiro, com cifras milionárias e contratos relâmpago que mudam de camisa conforme o vento. Mas entre tantos movimentos do mercado, há histórias que escapam à lógica do capital e nos lembram por que o esporte ainda é uma das expressões mais humanas da vida. O que está acontecendo na cidade de Mirassol é digno de uma fábula moderna. O clube, que leva o nome do Município, começou o Brasileirão desacreditado, apontado por muitos como um provável rebaixado. Hoje, figura entre os candidatos a uma vaga na Libertadores de 2026. O que mais chama atenção nessa história, entretanto, não é a ascensão esportiva e sim o modo como ela está sendo construída.


Enquanto a maioria dos times do país exibe nas camisas o nome de alguma casa de apostas, o Mirassol Futebol Clube manteve o seu principal patrocinador, a Bebidas Poty, uma empresa paulista de Potirendaba (menos de 50 quilômetros de Mirassol) que acreditou no clube em 2007 quando ainda lutava por reconhecimento. É um gesto raro. Em vez de ceder à tentação de contratos mais lucrativos, a diretoria optou por valorizar quem esteve ao lado nos momentos em que o holofote era distante. Em um ambiente dominado pelo imediatismo, a gratidão virou um ato de resistência.


Esse tipo de fidelidade corporativa é algo que transcende o esporte. É o mesmo princípio que move o relacionamento entre artistas e seus mecenas. Aqueles que, historicamente, apostaram no talento antes que ele se tornasse fama. Foi assim com os Médici em relação a Da Vinci, Michelangelo e Botticelli; foi assim com Arnaldo Guinle, que apoiou Villa-Lobos, além de tantos outros nomes que só floresceram porque alguém acreditou neles antes do aplauso. No fundo, o patrocínio, quando alicerçado por alguma razão que transcende o retorno financeiro ou midiático, passa a ser uma forma de afeto. Um investimento não apenas em resultados, mas em propósito, em valores e em sonhos compartilhados.


A relação entre o Mirassol e a Poty mostra que é possível fazer diferente. Que há um outro jeito de estar no jogo. Um jeito que entende o patrocínio não como transação, mas como uma relação. O esporte, afinal, é uma das expressões mais puras do espírito humano nas quais não faltam esforço, superação, lealdade e reconhecimento. E quando o dinheiro tenta sufocar esses valores, gestos como o do Mirassol lembram que nem tudo está perdido.


O futebol precisa de gols, vitórias, troféus e também precisa de dinheiro, é fato. Mas também precisa de gestos que inspirem. E o do Mirassol e da Poty é exatamente isso: um lembrete de que o verdadeiro valor do jogo está nas relações que o sustentam. E na nobreza de quem sabe reconhecer quem acreditou primeiro. 


Não saberia dizer até quando essa parceria poderá suportar o assédio de bolsos mais recheados, mas espero que a fábula tenha um final feliz para todos aqueles que a criaram.


ree

 
 
 

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